Crítica | Rebelde – 1ª temporada reverencia a novela original

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Entre tropeços, Rebelde encontra caminho certo com Emilia e Andi.

Por: Victoria Tuler & Layla Pena 

Mientras mi mente viaja a donde tú estás, mi padre grita otra vez”. Em 2008, o mundo ouvia  pela última vez a música tema da novela que, graças à banda que ajudou a formar, se tornou um fenômeno mundial e arrastou multidões por aí. Quase 14 anos depois a Netflix lança a série Rebelde focando na Geração Z. 

Apresentada como uma versão “reciclada”, carregada de renovação e dramas contemporâneos, a nova temporada — que funciona como um reboot e um remake ao mesmo tempo — também opta por reverenciar a novela original. 

Além da ambientação, dos uniformes e da recriação de cenas icônicas (como a sequência de Mia Colucci com seu Motorola V3 rosa pink guardado na bota, que, na série, é recriada com um Motorola Razr), a produção de um dos maiores serviços de streaming do mundo também investe em citações diretas aos personagens clássicos. Já o sucesso na América Latina é representado pela escolha do elenco, com atores de vários países latinos (incluindo o Brasil, muitíssimo bem representado por Giovanna Grigio).

Mas afinal, a adoção de temas sociais relevantes atualmente, feita para os espectadores mais jovens, e o apelo à nostalgia, para a faixa etária millennial, é o suficiente para segurar uma marca de peso como Rebelde

Um dos pontos mais interessantes da série é justamente fruto da investida em novos arranjos familiares e afetivos. Andi (Lizeth Selene) e Emília (Grigio) concentram a energia que transformou a novela de 2004 em um fenômeno de audiência — e não só por conta do relacionamento romântico que se estabelece entre elas. Tanto pela maturidade no trabalho das atrizes quanto pelo arco narrativo verossímil e profundamente universal, fácil de se identificar, que cerca as duas personagens, ambas despontam como o fator mais vibrante da nova Rebelde.

Emília, em particular, se desenvolve com uma jornada trabalhada de forma crível, competente e profundamente humana. Introduzida como uma vilã estereotipada em potencial, a brasileira ganha novas nuances a cada episódio, faz autocríticas, erra, acerta, aprende, se desconstrói, reconstrói e redescobre. É difícil não se envolver com o carisma e o desenvolvimento que faz com que qualquer um que já tenha vivido a experiência de ser adolescente a compreenda. 

No entanto, o roteiro ainda peca em outros pontos do enredo. Uma das principais fraquezas é a falta de força do casal protagonista, formado por Esteban (Sergio Mayer Mori, que, curiosidade: é filho de Bárbara Mori, intérprete de Rubi, da novela homônima) e Jana (Azul Guaita). Além do descompasso da química entre os dois, as histórias individuais dos personagens não foram, até o momento, pilares sólidos o suficiente para sustentar a atenção do público. Também pesa contra a dupla as expectativas criadas a partir dos paralelos com Mia e Miguel, um dos pares mais emblemáticos da versão de Rebelde que foi ao ar quase uma vida adolescente inteira atrás. 

A seita, outro elemento herdado da novela original, é subvertida e ganha uma importância gigantesca na obra da Netflix. Essa decisão é outro equívoco criativo, já que a abordagem escolhida é boba, maçante e superficial demais para receber tanto tempo de tela —  o que é possivelmente sintomático da falta de arcos narrativos consistentes para grande parte dos personagens da trama. 

Embora tente se atualizar para dialogar com uma geração que se preocupa com a representação televisiva de pautas políticas e sociais, Rebelde ainda tropeça em sua própria proposta. Prova disso é o desenvolvimento de Emília e Andi enquanto casal. Embora haja sensibilidade e doçura no processo em que as garotas descobrem seus sentimentos uma pela outra, ainda há um desequilíbrio entre as sequências das duas e as de outros casais. Enquanto os personagens heterossexuais ganham beijos mais intensos e até mesmo cenas de sexo, Endi se limita aos selinhos longos, inclusive quando decidem assumir sua relação para os colegas de escola — situação que, no mínimo, merecia mais do que um beijinho. 

Mesmo com os boatos de que as três primeiras temporadas já estão gravadas, a série precisa dar passos maiores se quiser firmar seu lugar no coração de quem a assiste. O que transformou Rebelde em um fenômeno global foi, acima de qualquer coisa, sua capacidade de sintetizar angústias, dúvidas e incompreensões de uma geração inteira. É necessário entender que se reinventar é muito mais do que incorporar cigarros eletrônicos e smartphones. 

 

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