Cultura e Resistência: Alexia Araujo e Ana Cavazzana falam sobre a 1ª edição do BEE: Festival Multicultural de Visibilidade Lésbica.

Entrevista Especial Mês Lésbico

Às véspera do Dia Nacional da Visibilidade Lésbica, ocorreu nos dias 26 e 27 agosto, a 1ª edição do BEE: Festival Multicultural de Visibilidade Lésbica. O projeto idealizado por Alexia Araujo e Ana Cavazzana, cineastas lésbicas que trabalham apenas em projetos com protagonismo lésbico, proporcionou as visitantes uma programação excepcional  feiras de arte e gastronomia, palestras, mostra de filmes, rodas de conversa e encontros com mulheres lutam diariamente pela nossa comunidade. A primeira edição do BEE: Festival Multicultural de Visibilidade Lésbica não apenas celebrou a comunidade de mulheres lésbicas, mas também se tornou um espaço de acolhimento e empoderamento para todas aquelas que participaram deste evento inspirador. Batemos um papo com as idealizadoras do festival para conhecer os bastidores da 1ª do BEE Festival Multicultural de Visibilidade Lésbica.

Alexia Araujo é graduada em Animação pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e mestranda em Design com foco em Mídia pela mesma instituição. A roteirista diretora e animadora, também possui especialização em Design e História da Arte, ministrou aulas na universidade e cursos voltaldo para roterização. Seu mais recente curta-metragem, “Ausência”, foi selecionado em mais de 70 festivais no mundo todo. É criadora do AnimaQUEER, festival de animação queer.

Co-criadora, diretora e roteirista ítalo-brasileira, Ana, possui 25 anos de experiência no audiovisual, trabalhando com publicidade no Brasil e na Europa, e posteriormente filmando seus próprios filmes. Possui 8 curtas-metragens autorais, premiados internacionalmente. Agora, está em pré-produção do seu primeiro longa-metragem, que terá como tema central o poliamor. Todos os seus projetos tem protagonismo lésbico, e além disso a diretora prioriza a contratação de profissionais pertencentes a minorias, como pessoas pretas, indígenas e da comunidade LGBTQIA+.

O Lesbocine conversou com as cineastas sobre os bastidores da 1ª edição do BEE: Festival Multicultural de Visibilidade Lésbica:

Como surgiu a ideia de criar o Festival Bee, e como foi esse processo de mudar de uma exibição de cinema para um festival multicultura?

Alexia: O BEE surgiu de uma necessidade que percebemos ao ver que na maioria dos festivais de cinema a porcentagem de filmes lésbicos é muito pequena, isso quando ainda existem. Mesmo em festivais de cinema LGBTQIA+, o número de filmes lésbicos selecionados sempre é uma minoria. Pensando nisso, resolvemos criar um festival de cinema focado na comunidade lésbica. Quisemos dar visibilidade a essas obras e a essas cineastas, e também gerar representatividade pro público.

Ana: Esse festival foi feito online, sem apoio ou patrocínio. Fizemos sozinhas. Por causa dele, conseguimos depois contato com o Centro Cultural da Diversidade e propusemos fazer um festival multicultural da visibilidade lésbica, porque vimos que o festival de cinema alcançou bastante pessoas, e um festival presencial seria mais rico em trocas e socialização. Assim conseguimos fazer o festival multicultural.

Por que vocês sentiram a necessidade de criar um evento com foco em mulheres lésbicas? Qual é a importância da representatividade da comunidade lésbica no contexto artístico e social, e como o BEE contribui para isso?

Ana: Bom, vimos que tinha uma lacuna na questão de eventos dedicados à comunidade lésbica. O Bee Film Festival, por exemplo, foi o primeiro festival de cinema lésbico do Brasil, e olha que estamos em 2023. Nós pensamos como seria um festival ideal pra celebrar nossa sexualidade, com o que nos sentiríamos representadas. Então idealizamos o Bee Multicultural.

Alexia: Acho que, acima de tudo, queremos nos sentir acolhidas e pertencentes, queremos debater sobre assuntos que são pertinentes à nossa sexualidade. Temos especificidades que nem sempre vão ser abordadas em locais que não sejam específicos para a comunidade lésbica. E nesse sentido, o BEE contribui pra essa promoção de debates, conversas e entretenimento que nossa comunidade precisa.

Poderiam compartilhar um pouco mais sobre a jornada de evolução do BEE, desde a sua primeira edição até o evento deste ano?

Alexia: A primeira edição, na verdade, foi essa de 2023. Tivemos antes o festival de cinema online, que agora evoluiu para um festival multicultural, mas ainda vamos continuar com os dois festivais separados, cada um com a sua função.

Organizar um evento como esse envolve diversos aspectos. Como foi o processo de organização e planejamento para garantir que tudo estivesse pronto nos dias 26 e 27 de agosto?

Ana: Entramos em contato com o Centro Cultural da Diversidade e propusemos o Festival BEE. Seria em agosto, no Mês da Visibilidade Lésbica. O local nos acolheu e a partir disso corremos atrás de outras parcerias que poderíamos ter para fazer um grande festival. Por meio da Ananda Puchta conseguimos patrocínio da Ben and Jerry’s, e em parceria com a Débora Gepp, as duas fizeram a maior parte da curadoria da programação. Nós fizemos a produção do festival e organizamos toda a logística, equipe e materiais. Fizemos isso com a ajuda de diversos parceiros e parceiras que quiseram nos apoiar.

A presença da produção e das atrizes de “Stupid Wife” e “Os Signos das Minhas Ex”, além de profissionais do mercado audiovisual, como vocês, Julia Regis e Maria Maya, é bastante empolgante. Como foi a colaboração e seleção dessas personalidades para o evento?

Alexia: A partir do momento que fizemos a parceria de realização do festival com o CCD, começamos a pensar em quais atividades gostaríamos de fazer. Resolvemos que o festival multicultural teria rodas de conversa sobre assuntos pertinentes à nossa comunidade, como maternidade e envelhecimento lésbico, mostra de cinema com alguns dos filmes selecionados do BEE Lesbian, feira de arte e gastronomia, palestras, shows e tudo o mais. Nosso critério era que todas as participantes deveriam ser lésbicas e promover representatividade à nossa comunidade de alguma forma. A partir disso, a Ana entrou em contato com Ananda e Débora, que trouxeram patrocínio da Ben and Jerry’s e fizeram a maior parte da curadoria da programação. Muitas das participantes eram contatos pessoais das meninas, e outras eram contatos pessoais nossos. Foi um processo de quase 2 meses entre eu, Ana, Ananda e Débora para organizar tudo até o dia do festival.

Roda de conversa – Representatividade lésbica no cinema, com Alexia Araujo, Ana Cavazzana, Julia Regis e Maria Maya

Agora que o evento BEE chegou ao fim, como vocês avaliam o resultado geral?

Ana: Tivemos um saldo muito positivo do festival. Mesmo com muita chuva e frio, conseguimos ter uma média de 700 pessoas circulando entre os dois dias de evento. Foram dois dias cheios de aprendizados, acredito que tanto para nós quanto para o público. Havia a parte da feira de arte e gastronomia onde diversas artistas e empreendedoras lésbicas expuseram e venderam seus trabalhos, embaladas pelo som da DJ Monic, e havia também a parte do teatro onde aconteceram as rodas de conversas, shows, etc. Conseguimos trazer à debate questões pertinentes às nossas vivências, pudemos ver a nossa trajetória como lésbicas até aqui, como podemos construir o futuro, e muito mais. Várias meninas vieram nos agradecer pessoalmente e por mensagem pelo festival, muitas falaram que aprenderam muito com as rodas de conversa. Tivemos lésbicas surdas que agradeceram por termos incluído acessibilidade no evento para que todas fossem contempladas. E é isso que importa! Ficamos aliviadas e gratas por ter sido um evento acolhedor.

Com base no feedback e nas experiências deste ano, quais são os planos futuros para o BEE? Haverá mais edições do evento, quem sabe em outras cidades do país?

Alexia: Agora que conseguimos fazer essa primeira edição presencial, acreditamos que será mais fácil manter edições anuais do evento. Pretendemos ampliar o festival e, por que não, levar para outros lugares do país? Estamos nos preparando no momento pra fazer a segunda edição do BEE Lesbian Film Festival, que a princípio será online novamente, mas queremos conseguir patrocínio para uma edição presencial.

Ana: Ficamos muito felizes com essa primeira edição, e vamos trabalhar para que no ano que vem saia a segunda edição do BEE. Já estamos em contato com possíveis parceiros para fazer um festival maior e melhor em qualidade e quantidade de atividades. Estamos também nos preparando para a segunda edição do BEE Lesbian que deve sair no final desse ano. Nosso principal objetivo é promover visibilidade pra nossa comunidade e esperamos que nossos eventos ajudem um pouco mais nisso!

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