Um coming of age para você ler nas férias – Resenha do livro “A jogada do amor”, de Kelly Quindlen

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Nada explica o quanto eu fiquei feliz quando a Alt anunciou a tradução de “She Drives Me Crazy”, prevista para o primeiro semestre de 2022. Empacada em valores altíssimos que quase nunca saíam da casa dos 90 reais na Amazon, a obra de Quindlen é uma queridinha na gringa e estava na minha lista de desejos há mais de um ano. O valor, obviamente, veio mais acessível, principalmente para quem acompanhava o original e sabia que mesmo a versão paperback saía por pelo menos 64 reais. Na Bienal do Livro de SP, que aconteceu entre 2 e 10 de julho de 2022, era possível encontrar “A jogada do amor”, como foi traduzida, por até 25 reais no estande promocional da Globo. 

“A jogada do amor” é um clássico enemies to lovers, que começa quando, numa batida entre os carros de Irene e Scottie, as duas meninas são forçadas a pegar carona juntas por algumas semanas. O problema: elas não se suportam. 

As duas adolescentes não poderiam ser mais diferentes: Scottie joga no time de basquete do colégio, mas está perdendo de lavada para o time da ex-namorada possessiva e ciumenta, de quem ela sente falta. No entanto, ela recebe todo o apoio de sua família mesmo quando não toma as melhores decisões, confiante de que está dando o seu melhor para uma carreira promissora no mundo dos esportes. Irene, por outro lado, tem uma mãe controladora e desestimulante, uma reputação a manter e uma equipe de líderes de torcida para comandar. Ela luta para provar a todos – e a si mesma – que pode ser destaque nos esportes mesmo competindo em uma modalidade nada convencional.

A atenção que Scottie recebe por estar andando com Irene lhe dá a brilhante ideia de propor a ela um namoro falso: oferecendo dinheiro para consertar seu carro, Scottie pede a Irene que finja ser sua namorada, atraindo atenção e apoio da escola para o time de basquete, e ainda gerando ciúmes em Tally, sua ex. Parece ser o plano perfeito, desde que elas não se apaixonem. 

O livro de Kelly Quindlen é uma doce história de amor adolescente com a deliciosa acidez das tropes fake dating e enemies to lovers, que parecem ser alguns dos gêneros favoritos da comunidade literária atualmente. É uma boa leitura de férias – rápida, curta e emocionante, ideal para quem tem 14 anos ou mais por não ser muito sensível nem pesada. 

Um ponto peculiar é a persistência por vezes até incômoda da autora em ilustrar a dinâmica entre Scottie e Tally, mostrando com clareza como um relacionamento tóxico pode se manifestar em alguns casos – insistente, dolorido, mas difícil de ser reconhecido. A jornada de Scottie tem muito a ensinar, mas é interessante observar como a personagem ganha maturidade ao longo da história. Ela deixa de ser uma criança imatura tentando provocar ciúmes na ex, e aprende a ter responsabilidade afetiva à medida que percebe que suas ações têm impacto sobre o mundo. É uma trajetória muito singular, que fez o livro valer a pena, apesar de não ser um dos meus favoritos. 

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