Crítica | Heartstopper: apresenta temas ligados à vivência LGBTQ+ por uma lente sensível

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nota do rotten: 100% | nota do IMDb: 9.0

Heartstopper como um todo apresenta temas ligados à vivência LGBTQ+ por uma lente sensível, e dá para ver que ter Alice Oseman, a criadora abertamente queer dessa história, como parte do time de produtores, fez diferença nesse aspecto.

Por: Nicole Camperoni

Uma série muito aguardada pelos fãs dos quadrinhos, e extremamente necessária para todos os espectadores mundo afora. A história de Nick e Charlie é uma linda história de amor adolescente, mas também é sobre amadurecimento, saúde mental, empatia, representatividade e a importância dos laços.

Somos apresentados a Charlie Spring, um garoto tímido entrando no primeiro ano do ensino médio (ou year 10, que é como funciona o sistema escolar da Inglaterra, onde a série se passa). Logo descobrimos que ele foi “tirado do armário” no ano anterior, e sofreu bullying e ataques homofóbicos por um longo período. Mas, com sorte, esse ano tudo vai se acalmar, ainda mais com a chegada de Nicholas Nelson: um ano mais velho, jogador de rugby, popular e animado para se aproximar de Charlie. A amizade dos dois, inicialmente improvável pois são de turmas completamente diferentes, causa borboletas em Charlie. Nick, por sua vez, nunca teve os sentimentos que tem quando está com seu novo amigo, e começa a se questionar… se ele só gosta de meninas, então por que tem vontade de beijar Charlie Spring?

Enquanto Charlie e Nick navegam o amor que está florescendo entre eles, a série apresenta outros personagens que também têm suas próprias questões relacionadas à sexualidade e relacionamentos durante o ensino médio. Tao Xu, amigo de Charlie, tem medo que o garoto se iluda por alguém que não sente o mesmo, mas na verdade tem mais medo de perder mais uma pessoa importante da sua vida. Isso depois que Elle, sua melhor amiga, transfere para a Escola Higgs, separando o grupo que ela, Tao e Charlie tinham. Por sua vez, Elle conhece Tara e Darcy, que começaram a namorar recentemente e querem finalmente contar para colegas e familiares que são lésbicas.

O primeiro ponto positivo dessa série é que ela é exatamente o que uma adaptação deve ser: predominantemente fiel ao material original, mas com a oportunidade de expandir a história e a visão dos personagens, tornando-os únicos. É por isso que, quando alguns episódios colocaram a relação de Nick e Charlie em segundo plano para contar mais sobre Tara e Darcy eu fiquei surpresa, mas muito feliz. Tara, que nos quadrinhos é um crush antigo de Nick e se reaproxima dele já confiante sobre sua sexualidade, na série pôde explorar mais suas dúvidas, principalmente sobre se assumir. Depois de contar para toda a escola que ela e Darcy são um casal, Tara começa a receber comentários homofóbicos de forma velada, e se frustra por não ser levada a sério como lésbica, por ser uma garota super feminina e que já ficou com garotos no passado.

A série explora esse enredo de uma forma muito delicada, e nos conecta com essa jovem de 15 anos que não tem sua identidade aceita pelas pessoas à sua volta – um problema real que jovens LGBTQ+ enfrentam ao se assumirem. Aliás, Heartstopper como um todo apresenta temas ligados à vivência LGBTQ+ por uma lente sensível, e dá para ver que ter Alice Oseman, a criadora abertamente queer dessa história, como parte do time de produtores, fez diferença nesse aspecto. Uma série aparentemente curta foi capaz de falar do medo que nos vejam com outros olhos, da incerteza e dificuldade para entender a sexualidade e da intensidade que é um primeiro amor queer. Tudo isso, sem cair nos clichês que já estamos cansados de assistir – ninguém morre, ninguém é expulso de casa e os casais ficam juntos no final. O amor vence.

Vale mencionar que essas histórias são protagonizadas por um casting diverso, que é literalmente a versão humana dos personagens dos quadrinhos (sério, fico em choque!). Aqui, gostaria de chamar a atenção para Yasmin Finney, atriz que interpreta Elle na série. Esse foi o papel de estreia de Yasmin, mas parece que ela já está no ramo há décadas; ter sua visão como adolescente trans que passou pela transição durante o ensino médio, assim como Elle, é só um dos detalhes que tornam a personagem autêntica e apaixonante.

Por fim, não teria como não mencionar a fotografia, que é parte essencial da trama. A série foi capaz de trazer cores delicadas para a tela, e ângulos de cenas que copiaram quadro por quadro do material original. Ah, e a equipe teve o cuidado de manter ilustrações em 2D que acompanham os sentimentos dos personagens em alguns momentos decisivos. Isso tudo torna Heartstopper uma série aconchegante, daquelas de pegar o cobertor, um chocolate quente bem quentinho e o travesseiro mais fofo que você encontrar para assistir.

Que sorte dos jovens de hoje, que encontrarão em Heartstopper um porto seguro de representatividade. Eu, certamente, gostaria de ter essa série enquanto crescia e começava a entender minha sexualidade. Mas não tem problema: Heartstopper é para todas as idades, públicos e para todo mundo que acredita numa boa história de amor.

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