Entrevista Exclusiva com o elenco e as roteiristas Germana Belo e Nicole Pacent da websérie “As Love Goes’

Entretenimento Entrevista Séries

Nesta semana, o Lesbocine entrevistou as atrizes e roteiristas de “As Love Goes”, websérie LGBTQIA+ que conta as aventuras de Laura no amor, estando presa numa encruzilhada entre seu casamento frustrado e uma nova garota que entra em sua vida. A entrevista conta com curiosidades da série e da vida das entrevistadas, e As Love Goes está em pré-produção com previsão de lançamento para 2023. 

Conheça o elenco:

BIA BORINN COMO LAURA

Qual personagem que interpreta na série? R:  Laura

País em que nasceu e onde mora agora? R:  Nasci no Brasil, moro em Los Angeles desde 2017. Mas fico com um pé aqui e outro no lá.

Já fez outro papel em uma produção LGBTQIA+? Se sim, em qual? R: Não! Minha primeira vez 🙂

Você faz parte da comunidade LGBTQIA+? Se sim, qual letra? R:  Aliada, aliada aliaaaadaaaa!!!! 

Alguma curiosidade ou história sobre você que acha que a gente vai gostar de saber? R:  Uma vez eu escutei de um amigo “Bia, te indiquei para o papel x da peça y… mas a diretora não quis você.” Perguntei, porque e ele me respondeu: “Porque ela disse que você faz muito teatro para crianças e não faz teatro adulto. Ela acredita que você não vai conseguir fazer esta personagem”. Ou seja: não deixe que os outros definam o que você é capaz de fazer. 

O que te chamou atenção no projeto de As Love Goes? O que foi determinante para você aceitar o papel? R:  O roteiro é maravilhoso. E fazer uma protagonista, com um arco dramático tão grande, é um privilégio para qualquer atriz/ator. Eu vi o RED e tive certeza que seria um projeto esteticamente lindo também. Atuar em inglês e em português então… Trabalhar com esta equipe… são muitos os motivos!

Sinopse curta da sua personagem. R:  A Laura é uma psicanalista nos seus 40 anos que mora em São Paulo, casada com a Beatriz já há alguns anos. Ela é bem sucedida, tem uma vida confortável, e quer ser mãe. Quer ter uma família. Entretanto, por sempre ter tido uma vida mais heteronormativa, não tem uma conexão com a comunidade queer. Como se ela não quisesse realmente se olhar de frente, vivendo uma vida dupla: sua vida privada x vida social. Ela é inteligente, pragmática e admira pessoas criativas, aventureiras e corajosas. Até por isso se apaixonou por Beatriz – e acabada se apaixonando, também, pela Marina. Mas desta vez a transformação será bem mais profunda, junto com a crise de meia idade. 

Existe alguma coisa na personalidade na Laura que te deixa desconfortável? (Ou por ser muito parecida com você ou por você realmente não concordar ou etc…)? R:  Adorei a pergunta (risos). Através da Laura eu tenho que olhar para o meu lado controlador e pra Bia quer ser bem sucedida e aceita (passando por cima dela mesma, dos seus reais desejos), o que não é fácil. Mas é por isso mesmo, também, que escolhi ser atriz/filmmaker (e porque acredito no poder da arte na sociedade): para me questionar, me transformar, me perdoar. É nesta falibilidade que me encontro profundamente com a personagem, e através dela tenho a oportunidade de compartilhar com o mundo. 

Qual a melhor parte de trabalhar com a Bella e a Tracy? Conte alguma coisa na qual elas sejam completamente diferentes? R:  Primeiro, o bom humor. Elas são piscianas, AS DUAS!!! Acreditam? Então são super sensíveis, têm uma antena boa, são intensas e super responsáveis. Eu me dou super bem com elas. Elas são lindas de morrer, né? Diferenças: além da idade, a Tracy é mais nova, ela é mais alternativa com um espírito livre. Tatuagens e piercings. A Bella é quase uma mãezona, ela tá sempre perguntando se tá tudo bem com todo mundo. Ah! E tem dia  que ela prefere comer um brownie de almoço. Esse é o lado ousado da Bella! Hahahaha.

Se você pudesse dar um conselho para quem está passando pela mesma fase que a Laura está (de transição e questionamentos), que conselho você daria? R:  Todos passamos por estas fases. Acredito que conversar, principalmente através de uma terapia (seja ela qual for, convencional ou não) ajude muito. Fazer parte de uma comunidade também. Acho que demorou muito para a Laura olhar de frente para algumas questões justamente porque ela não se envolveu com a comunidade queer. Algumas questões desta crise não fazem parte do dia-a-dia de quem é hétero, por exemplo. Então, onde ela vai 

BELLATRIX COMO BEATRIZ

Qual personagem que interpreta na série? R: Beatriz

País em que nasceu e onde mora agora? R: Nasci no Brasil, moro em São Paulo.

Já fez outro papel em uma produção LGBTQIA+? Se sim, em qual? R: Sim. Fui a Victória na websérie Red!

Você faz parte da comunidade LGBTQIA+? Se sim, qual letra? R:  Não.

Alguma curiosidade ou história sobre você que acha que a gente vai gostar de saber? R:  Sou lenta para responder nas mídias sociais, mas respondo!!! Também sou artista plástica além de atriz e produtora de cinema… aliás… Estou produzindo meu primeiro longa e adivinhem a temática..! Sou mais que apaixonada por contar histórias pra vocês, então sim!!! Meu primeiro longa tem temática lésbica e espero ter super good news já agora no início do ano sobre essa produção linda!!! Ahhhh também vou fazer como atriz e nossa equipe é predominantemente formada por mulheres maravilhosas!!! Inclusive, vou dar spoiler…. a nossa Germana é uma das roteiristas!!! Não falei que era tudo mulherão….!

O que te chamou atenção no projeto de As Love Goes? O que foi determinante para você aceitar o papel? R: Primeiro a equipe… seguir trabalhando com a galera do RED foi um luxo, amo todo mundo, então o sim já era um fato antes de tudo!!! Agora, quando fui ler os primeiros capítulos… a história de uma artista que encontra seu valor como pessoa diminuído na relação por ela não ter um sucesso esperado, realmente bateu… é bem difícil para as pessoas que não são do nosso meio, entenderem a nossa luta… E esse é só um viés dessa personagem maravilhosa que as meninas escreveram…

Sinopse curta da sua personagem. R: A Bia é artista plástica e se apaixona por uma psicóloga de sucesso.. elas acabam se casando, e com o tempo, o descaso de Laura pela profissão da Bia fica mais forte… com o tempo, Bia começa entrar em depressão, e se afasta ainda mais de Laura. Laura tem uma viagem marcada para os Eua, e Bia aproveita esse período separadas para pedir um tempo na relação. Mas… aparece outra pessoa na vida de Laura… e elas também se envolvem… mas a viagem termina e eu não posso contar mais!!!

Você acha que a Beatriz e a Victória, sua personagem na websérie Red, são parecidas ou diferentes? R: Elas são parecidas sim!!! Ambas amam demais, a vida, a arte, os livros, e amaram intensamente em suas relações também! Elas têm um perfil mais passional no amor e na vida… Vic deixou o país pelo amor aos livros, pra estudar, morar em outro lugar, aprender novas culturas… acaba que se arrepende um pouco porque ela deixa o amor da vida no Brasil, que ali ela tinha uma relação de ciúme bem preocupante, e quando volta, entende que seu amor não está mais disponível…. luta até o fim e depois entende que perdeu… A Bia é artista e também ama incondicionalmente a arte, e também ama demais sua mulher, mas acaba se frustrando no relacionamento.. entra em depressão… e quando pede um tempo na relação, a mulher da sua vida entra em outra história… que a gente não sabe se vai seguir ou não… isso eu acho que vai ser temporada 2… spoiler meninas!!!

Olhando de fora a situação da Laura, você acha que ela só resolveu ficar com alguém tão mais novo para não correr o risco de namorar alguém parecida com a Beatriz ou que ela realmente gosta/ama a Marina? R: Ahhh eu acho que ela se conectou  com a Marina, ela estava ali, cheia de vida, de amor, de energia… a Laura em pause com uma relação que vinha desgastada… acho que ela “aproveita” o tempo que a Bia pediu para viver essa história, mas porque se encantou mesmo.. agora amar…é outra coisa… ela vai ter que voltar pro Brasil, ficar cara a cara com a Bia, pra depois entender o que ela faz com essa história…

TRACY LE COMO MARINA

Qual personagem que interpreta na série? R:Marina

País em que nasceu e onde mora agora? R: Nasceu nos Estados Unidos e mora atualmente em Long Beach.

Você fala português? R: Não, mas estou aprendendo com o elenco e a equipe, principalmente com a Bia (Laura).

Já fez outro papel em uma produção LGBTQIA+? Se sim, em qual? R: Sim, no curta-metragem “Dolor” de Prudence Brando.

Você faz parte da comunidade LGBTQIA+? Se sim, qual letra? R: Yes! I’m fluid.

O que te chamou atenção no projeto de As Love Goes? O que foi determinante para você aceitar o papel? R: Além de ser um projeto LGBT+, ele tem um elenco diversificado cultural e geograficamente.
Eu quero ver isso na série.

Sinopse curta da sua personagem. R: Marina é uma brasileira-americana, queer, brilhante, sincera e orgulhosa. Que está muito confortável sendo ela mesma e com crenças. Ela acaba se apaixonando por uma mulher chamada Laura, que compartilha algumas semelhanças com ela, mas na verdade é seu oposto. Por causa disso, ela está determinada a tirar Laura de sua zona de conforto, mas no processo ela começa a questionar suas próprias crenças e ideais pela primeira vez.

Qual é a sua personagem LGBT favorita? Você a usou como referência para Marina? R: Sidney Pierce de Gypsy. Ela é direta e não tem medo do que quer. Quando li sobre a Marina, definitivamente pensei nas semelhanças das duas.

O que você e a Marina têm em comum? R: Embora Marina seja muito mais legal e confiante, a gente compartilha a mesma teimosia. Não desistimos, mantemos nossas crenças e morremos com elas.

Com qual característica você acha que o público irá se identificar odiar na sua personagem? R: O público se identificará com autoconfiança e talvez odeie como ela não consegue pisar no freio, às vezes.

Alguma curiosidade ou particularidade sobre você que acha que a gente vai gostar de saber? R: Eu sou uma grande defensora da saúde mental e de cuidar de si mesma. Se você tem o privilégio de fazer terapia, permita-se. É um mundo louco em que vivemos. Não tem problema receber ajuda extra para nós mesmas, seja ela qual for. Acho que não conversamos sobre isso o suficiente. Eu quero começar por onde eu puder.

Conheça as roteiristas

GERMANA BELO

Como você pretende impactar a vida daqueles que assistirem a série? Além de entretenimento? R: Nossa história propõe discussões e reflexões interessantes sobre vivências LGBTQIA+, sobre autoconhecimento e a busca por uma existência mais autêntica e verdadeira. Espero que esses questionamentos toquem as pessoas de alguma maneira, e que as estimulem a refletir sobre suas próprias vidas e escolhas.

Existe alguma base/história pessoal por trás de alguma das personagens? R: Acredito que todos os personagens que criamos têm base em algo pessoal, têm um traço da nossa própria história, seja isso consciente ou não. Porém, mais especificamente, diria que Laura e Beatriz são as personagens que mais refletem algumas de minhas questões pessoais e vivências.

Como que o público pode ajudar a fazer esse projeto acontecer? R: Pode apoiar nossa campanha de financiamento coletivo no Catarse (aslovegoes.com.br), se estiver no Brasil, ou no Indiegogo (aslovegoes.com). Mas corre, porque estamos nos últimos dias de campanha! É possível contribuir com qualquer valor (mesmo!), cada moedinha faz diferença no final. E se alguém tiver acesso a algum restaurante, galeria, café ou apartamento legal em São Paulo ou Los Angeles, nos avise! Talvez a gente queira gravar lá!

NICOLE PACENT

Como você pretende impactar a vida daqueles que assistirem a série? Além de entretenimento? R: Do ponto de vista social, minha meta principal, honestamente, é apenas inspirar empatia nas pessoas que assiste “As Love Goes”. Nossos personagens não são perfeitos. Em alguns momento, até a própria Laura é uma anti-herói. Eu amo personagens assim, porque nós podemos nos identificar com eles — vemos nossos próprios defeitos neles. Espero que as pessoas que assistam essa série e se julgam, e julgam outros, passem a fazer menos isso. O mundo precisa de mais gentileza, perdão e compreensão.

Tem alguma história pessoal por trás de algum dos personagens? R: Não diretamente, mas os temas que escrevemos nas histórias definitivamente vem de experiências pessoais. Por exemplo, a dificuldade — impossibilidade, na verdade — de se encaixar num modelo de relacionamento heteronormativo como uma pessoa Queer (LGBTQ+). Eu demorei muitos anos para aceitar que tentar me encaixar no padrão tradicional de casamento — de vida, na verdade — não funciona para mim. É como tentar encaixar um quadrado em um círculo. E acho que a dificuldade que Beatriz tem com a Laura reflete isso, como também Laura aceitando que ela vem reprimindo grande parte de quem ela é para parecer normal na sociedade. Além disso, o conflito de gerações que escrevemos na história vem do que ja vimos e tivemos a experiência, a maior parte online. Rótulos, identidades e aceitação da sociedade mudaram drasticamente nos últimos 20 anos, então as experiências de pessoas queer (LGBTQ+) na nossa comunidade mudam muito de geração para geração. Infelizmente, eu presenciei a falta de compreensão e paciência com o estilo de vida de pessoas mais velhas para as mais novas na comunidade, e vice-versa, o que é uma pena. Eu queria essa realidade na série.

Por fim, o conceito de “segunda adolescência” que a Laura tem a experiência quando finalmente aceita sua sexualidade na meia idade, veio das diversas histórias que ouvi como co-apresentadora do @comingoutpod e como organizadora do grupo social LA LGBT Center. É um fenômeno muito real e, enquanto não é uma experiência pessoal, escrevi meus conhecimentos sobre isso na As Love Goes. Ah! E o jogador de baseball que faz parte da história de Marina ao se assumir (vocês vão ver)… isso (infelizmente) aconteceu, risos.

No link a seguir, você pode contribuir com a produção da série: www.aslovegoes.com.br

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *