Um anseio tomou os fãs de The Wilds (Prime Video) desde os primeiros materiais de divulgação da segunda temporada: a introdução de oito novos personagens, todos garotos, também escolhidos para participar do experimento comportamental a que as protagonistas que já conhecemos foram submetidas.
O receio, claro, é justificado. Todo o público fiel conquistado no primeiro ano da série foi atraído pela premissa de acompanhar a luta pela sobrevivência de um grupo totalmente feminino, ainda que diverso, com personalidades, passados, desejos e propósitos muito diferentes entre si.
O relacionamento de Shelby (Mia Healey) e Toni (Erana James), principal pilar romântico da obra, bem como o próprio espaço em que o enredo se desenrola — uma ilha remota habitada somente pelas sobreviventes— criou expectativas que atraíram a atenção de quem navega pelos catálogos de streaming buscando por conteúdo lésbico ou, no mínimo, por dinâmicas entre personagens femininas que fujam ao óbvio. Nesse contexto, é natural que se instale o medo generalizado de que a chegada de um grupo de homens extraia o brilho que transformou The Wilds em um fenômeno.
No entanto, por incrível que pareça, a estreia dos garotos não representa a perda de qualidade e protagonismo feminino que aparentou num primeiro momento.
A grande problemática dos novos personagens é, na verdade, um obstáculo de roteiro: o gerenciamento do tempo de tela para abarcar todos os arcos narrativos que a história se propõe a entrelaçar. O percalço também é aprofundado pelo tamanho da temporada, que tem apenas 8 episódios — dois a menos que a anterior. O corte orçamentário que ocasionou essa redução também interferiu diretamente no trabalho de pós-produção, que perde um pouco de qualidade em relação ao ano passado.
Com isso, há um certo ar de superficialidade em alguns pontos, e de perda de ritmo da narrativa em outros, sobretudo nos primeiros capítulos. Mesmo assim, The Wilds ainda segue competente em surpreender, entreter e propor ganchos de tirar o fôlego ao fim de cada episódio.
Os garotos são um contraponto em relação às meninas que condiz com a construção social dos papéis de gênero na vida real, mas que possivelmente vai irritar muitas espectadoras. Os rapazes se revelam pessoas mais imaturas e codependentes, a ponto de haver um contraste gritante em relação ao outro grupo. Apesar de intencional, a dinâmica acaba diluindo o carisma de alguns personagens.
Já quem ficou com medo de que a aterrissagem dos meninos transformasse a série em uma overdose de heterossexualidade pode respirar aliviada, porque isso não é o que acontece. Entre eles também há, inclusive, discussões sobre descoberta da própria identidade sexual que conseguem escapar da normatividade.
Shoni também conta com vários momentos fofos, bonitos e importantes para o desenvolvimento de Shelby e Toni desde o início da temporada. Logo nos primeiros episódios, as fãs do casal podem esperar o amadurecimento do relacionamento, que atinge novos níveis e conquista espaço mesmo em meio a uma temporada gerencia seu enfoque para novas nuances sobre o experimento que serve como alicerce para os conflitos da história.
Em muitas instâncias, a segunda temporada de The Wilds toma uma decisão corajosa: a de ser tão introdutória quanto a primeira em alguns aspectos, para, ao que tudo indica, chegar ao seu clímax numa eventual terceira temporada. Apesar de uma certa sensação de que o desenvolvimento anda em círculos em alguns momentos, a construção é consistente e consegue segurar o interesse do espectador com qualidade.
A segunda temporada de The Wilds chega ao Prime Video na próxima sexta-feira (6).