“Foi a realização de realmente um sonho”, diz a jornalista Lorena Coutinho sobre o seu casamento com Natalia Daumas

Entrevista Notícias

As jornalista Lorena Coutinho e Natalia Daumas vivem uma história de amor inspiradora. Com vídeos sinceros e engajados, o casal compartilha não apenas sua rotina profissional, mas também momentos íntimos em família. Além disso, elas utilizam as plataformas digitais para defender os direitos da comunidade LGBTQIAPN+. Sua história de amor e ativismo é um testemunho do poder transformador que as redes sociais têm na construção de uma sociedade mais inclusiva e igualitária.

Lorena e Natalia, vocês tem uma história de amor linda, conta para nós como vocês se conheceram? 

Lorena: Há 12 anos vim pra São Paulo. Na emissora onde nos duas trabalhamos juntas, eu cheguei e uma
das primeiras pessoas que eu vi foi a Natália, mas até então eu nem imaginava que um dia ela seria a minha esposa, minha mulher. O que eu lembro, era ela de all star nos pés e uma camisa amarrada na cintura e naquele momento, não posso falar que foi amor a primeira vista não, mas eu já sentia uma energia boa no peito, sabe? Como se algo dissesse “se aproxima dessa mulher”. Enfim, também muita gente já queria se aproximar dela, não só eu. E assim foi, até então como amigas e depois de algum tempo. Após o término do meu relacionamento, a gente finalmente deu uma chance pra gente. Na verdade, até então como uma curtição e depois começamos a namorar.

Natalia: Eu lembro dela chegando também,  de salto alto, blusa de gola alta, e eu lembro dessa cena até hoje. Eu lembro da roupa que ela estava vestindo, assim, foi bem marcante, eu lembro de ter achado ela muito bonita, mas sem atração, física e tal. Até então, nos relacionávamos com homens, a Lorena era casada e eu namorava homens e tal, mas eu lembro de ter sido um primeiro olhar marcante, assim, pra mim. Foi bem legal, mas foi no trabalho. A gente se conheceu e se aproximou como amigas no trabalho de jornalismo né, em televisão, que é o que a gente faz.

Como foi o primeiro beijo?

Natalia: O primeiro beijo foi depois de um show que nos fomos assistir juntas. A gente foi pra casa de um grande amigo nosso, ele dormiu. Ficamos só nós duas acordadas, conversando, e aí foi meio que rolando um clima e tal. A Lorena teve atitude, a gente realmente já estava mais íntima, pegando na mão de um jeito diferente, se abraçando de um jeito diferente e acho que foi ali uma oportunidade, acho que ela fala melhor do que eu. Mas eu lembro que a minha sensação ao sair, ao ir embora nesse dia foi muito boa. Eu lembro de estar dentro de um táxi, olhando pela janela bem tipo filme, que você fala “nossa o que que aconteceu aqui?”. Eu brinco que até o taxista percebeu que alguma coisa de muito boa aconteceu naquela noite comigo.

Lorena: Bom, eu acho que é importante começar falando isso né, como ela já disse, que eu tinha um relacionamento de 8 anos. Depois do término, foi ela quem começou a me levar pra sair, ela e alguns amigos. Então, eu comecei a viver após esse relacionamento, aos poucos fomos nos aproximando e, comecei a ver mais que uma amiga ali, existia uma atração, um desejo, até porque eu já sentia atração afetiva e sexual por mulheres, isso no passado né, já sentia, só que me auto boicotava por medo, enfim. E, naquela noite, eu já tinha na cabeça e eu tava decidida: eu ia tentar beijá-la. Não sabia como seria a reação dela, mas eu já tinha tomado a minha decisão. Enfim, curtimos, saímos, numa balada, num show e depois fomos pra essa casa do nosso amigo. E ali, juntas, conversando no chão, eu tentei beijá-la. Agora, pasmem, pasmem, né, pode acontecer (risos), ela simplesmente falou pra mim: “Nãaaao, cê tá doida?”. E eu como uma boa escorpiana né (risos), falei: “tudo bem, se você não quer”. E fingi maior naturalidade, continuei a conversa como se nada tivesse acontecido, mas pensando: “nunca mais vou tentar nada”. E não tentaria né. Só que aí 5 minutos se passaram e acho que ela se arrependeu, sabe gente? E aí ela veio me beijar e aí começou então, é isso, borboletas na barriga e a gente não se largou mais.

Natalia: Eu achei que você não fosse contar essa parte (risos).

Quando descobriram que estavam apaixonadas e como foi?

Lorena: Bom, a gente tinha um combinado, que era assim: “a gente vai ficar, mas nada mais sério, tá?”. Esse era o combinado, mas a gente não manda no coração né? E quando a gente foi ver a gente já estava totalmente ligadas, apaixonadas mesmo. A gente fez uma viagem juntas, como amigas, até então amigas que se pegavam (risos), junto com outro amigo nosso, e nessa viagem, esse amigo nosso até brinca, tinha uma cama de casal e duas de solteiro, era pra gente dormir nas camas de solteiro e ele ficar na de casal, mas a gente expulsou ele da cama de casal e
dormimos lá. A gente no fundo queria finalizar a noite sempre juntas e acho que foi ali que a gente percebeu “hmm… a gente ta se gostando. A gente não sabe o que a gente vai fazer com isso, mas a gente está se gostando”.

Natalia: Foi uma viagem pra Florianópolis, a gente foi passar o ano novo lá, de 2015 pra 2016 e realmente voltou dessa viagem falando: “Bom, não adianta”, porque fingíamos um pouco. A gente ainda paquerava uns caras e tal, mas é o que ela falou, a gente queria voltar e ficar junto. Então, a gente começou a desencanar de paquerar os caras e começou a querer só ficar junto e parar de se enganar. Então o ano que começou ali, logo depois, a gente passou a ficar juntas, só nós duas, ainda meio escondida né, mas já apaixonadas.

Qual foi a aventura mais louca ou a história mais engraçada que vocês viveram juntas?

Lorena: Bom, no começo ali né, imagina…fogo da paixão! A gente só queria ficar juntas, saímos bastante, terminávamos a noite onde? No carro. A gente não tinha pra onde ir, eu tenho uma filha e a Nat até então morava com o irmão, então o carro era nossa suíte 14. Então teve um dia que a gente tava ali dentro do carro, os vidros todos embaçados e tal, e uma loucura né. Hoje eu paro pra pensar e falo: “Gente, duas mulheres ali, dentro do carro”. Primeiro, a questão de sei lá, perigo, alguém chegar, enfim… e ao mesmo tempo na frente do meu bairro, na frente do meu prédio. A chance de alguém flagrar era altíssima. E foi assim, não flagrou, mas uma vizinha viu eu saindo do carro. Imagina, a maquiagem já no queixo, o vidro todo embaçado, eu toda bagunçada, saindo meio torta, me ajeitando e a vizinha: “Olá, bom dia!” e eu com aquela minha cara, no chão, cheia de vergonha. Depois ela descobriu né, que eu e Nat nos pegávamos, mas eu não sei se ela associou uma coisa com a outra, enfim. (risos).

Natalia: Eu lembrei de uma que não tem necessariamente a ver com o relacionamento em si, mas a gente gosta muito de viajar. E a primeira viagem que a gente fez internacional juntas foi pra Cuba. A gente foi pra Cuba, fizemos ali a ilha inteira, de ônibus, um mochilão pela ilha e na cidade de Havana a gente ficou hospedada na casa de uma família, numa família cubana. Então a gente viveu pra caramba né, a cultura ali deles e tal. E eles colocaram a gente hospedada num quarto já a noite. A gente chegou super tarde e tal, e a gente deu boa noite ali pra eles. Quando a gente foi apagar a luz, eu vi uma anteninha assim, no armário. Aí eu falei: “Lorena pelo amor de Deus, isso é uma barata”. E aí ela: “Não, não é. Vamos dormir”, eu falei: “É sim, vamos ali olhar”. Eu tenho pavor de barata e ela também.

Natalia: É… e aí, eu falei “Não, não é possível, não vai dar, não vai dar. Não vou conseguir dormir, não vou conseguir dormir”. A gente pensou “O que que a gente faz?” E aí, gente foi tentar matar a barata, com chinelo.

Lorena: E era aquelas casas bem sombrias também né, bom dizer isso.

Natalia: Era uma casa antiga. Só que aí a barata entrou no vão do armário, numa parte que seria impossível matá-la sem ter que acordar a dona da casa. E era de madrugada, a gente falou “Cara, a gente acabou de chegar, não vamos acordar a família né!”. Aí eu falei: “Bom, tenho uma ideia”, ela: “O que?”, daí eu falei: “Vamos tirar o armário do quarto”. E aí eu e ela, a gente se posicionou, tentando fazer um silencio de madrugada. O armário super grande, pesado, e eu e ela arrastando pra fora do quarto e colocamos o armário no corredor da família, fechamos a porta, sem ninguém ver e protegemos o chão da porta, o vão né, pra barata não entrar nem nada e tal, e dormimos. E aí no dia seguinte, obviamente, a família acordou e falou: “Gente o que que esse armário tá fazendo fora do quarto?”

Lorena: No meio do corredor (risos)

Natalia: E a gente falou “Ahh não, é porque as malas não cabiam direito aqui e a gente tirou. Eles devem ter falado “Deve ser mania de brasileiro” (risos). Enfim… foi engraçado.

Quem é mais ciumenta?

Natalia: Acho que no começa era eu. Apesar da Lorena ter chegado em mim, ter vindo me beijar, ela sempre foi uma mulher que chamou muita atenção na balada, nos bares e tal. No começo quando a gente ainda tava meio escondida, frequentávamos baladas héteros, ninguém sabia que nós estávamos juntas, então às vezes a galera chegava nela, então isso me irritava no começo, falava “que saco!”, sabe assim? Mas aí, depois da gente assumir o relacionamento, sair junto, a gente começou a sair pra lugares mais gay friendly, e aí isso acabou! Obviamente com o tempo a gente vai ficando mais segura com situação, com relacionamento, a gente começou a namorar, o relacionamento foi ficando super sério. Hoje em dia então, a gente é super tranquila, cada uma vai pra balada sozinha, pode ser hétero, pode ser gay, pode ser o que for, a gente sai sozinha e não tem ciúme nesse nível não. Eu tenho um cuidado né, uma observação ali e aqui, mas não tem um ciúme brisado.

Lorena: Bom, não tem nem o que falar muito, vocês já viram aí (risos). Quem tem um pouquinho mais de ciúmes é ela, mas também nada que venha ser expressivo. Acho que realmente é essa questão de cuidado. Eu também tenho ciuminhos, mas, repetindo, como uma boa escorpiana, a gente não dá asa a cobra assim, a gente não da o braço a torcer, na verdade eu sinto aquele ciuminho e dou aquela sabe??? Eu tento, não sei, tento sair de alguma outra maneira.

Natalia: Devolve, sabe? (risos da Lorena) Quando sente ciúme ela devolve.

Lorena: (risos) Mentira gente. Mas enfim, eu sinto aquele ciuminho, mas pouco né, acho que o que a Nat falou sobre a questão de segurança é com o tempo, principalmente hoje, casadas. Acho que a gente vai criando essa fortaleza dentro e não vai tendo essa insegurança no peito.

O que vocês almejam para o futuro de vocês enquanto casal?

Natalia: Bom, a gente casou esse ano, então é um casamento oficial, acho que era uma coisa que a gente já almejava muito e foi conquistada. E daqui pra frente, a gente fala muito sobre evoluir profissionalmente, conseguir focar no nosso propósito, agora nas causas que a gente acredita, como da comunidade LGBTQIAPN+, que a Lorena tá super envolvida. Eu particularmente almejo muito que a gente aumente a família, ainda tô nesse papo aqui e que a gente tenha um canto legal nosso pra viver, a gente não almeja muita coisa não. E saiba conversar, saiba seguir se respeitando, evoluindo como pessoas, tanto individualmente como em família.

Lorena: Eu acho que falando juntas e ao mesmo tempo enquanto casal, e também profissionalmente como a Nat falou, de uns tempos pra cá, a gente até falou de pensar em algo profissionalmente juntas, então talvez essa seja uma das metas futuras aí, de pensarmos em um projeto agindo juntas, acho que são duas cabeças pensantes que funcionam muito bem, nós somos muito parecidas, muito determinadas, enfim, engajadas e essa é uma das possibilidades. Agora, como casal assim, em casa, acho que é isso. Conseguimos casar. O casamento foi no dia 14 de abril e já foi a realização de realmente um sonho, uma concretização de algo que a gente queria muito. E encorajando muitas pessoas, trazendo representatividade. E, na verdade eu até então não queria ter filhos, mais filhos né, já tenho uma. Mas, o tempo vai passando e eu também não queria casar, tá gente? E ela me convenceu, não me convenceu no querendo “convencer a força”, mas no convenceu do bem, eu querendo (risos).

Crédito - Daniel Okuyama
Crédito – Daniel Okuyama

Natalia: Do mal hein (risos)

Lorena: Me convenceu com jeitinho. E a gente vem conversando sobre isso, mas eu brinco que se a gente
realmente for aumentar a família, daqui não sai nada, seria dali. Enfim, é um tema que a gente conversa ainda e existe sim essa possibilidade.

O que mais aprendem diariamente uma com a outra?

Natalia: Eu acho que o que eu mais aprendo com a Lorena, uma das coisas né, é a falar menos e fazer mais. Eu sou uma pessoa que eu gosto muito de observar, de falar, de opinar e a Lorena é muito de fazer, assim, também sou de fazer, mas sabe aquela coisa do tipo desde de detalhes dentro de casa, eu sei lá, não sei um exemplo muito prático, mas assim, em vez dela falar pra mim “Natalia, vai lavar seu prato da louça”, ela pega e lava. E só o ato de ela ir fazer já me dá esse toque de eu falar “ai meu Deus, deixei meu prato lá, não lavei. Nossa que chato né, não contribuí aqui com a casa” e tal. Então ela faz, ela resolve, ela vai lá e simplesmente faz. E uma coisa que a Lorena não tem, é tempo ruim. Ela pode tá com pedra no rim, ela tá lá fazendo tudo que precisa, com sorrisão, sabe? Sendo simpática com todo mundo.

Lorena: Nem sempre, tá?

Natalia: Com todo mundo, com porteiro, com a galera da rua, com a gente. Então, não tem tempo ruim nenhum, ela vai e resolve o que precisa resolver.

Lorena: Bom, o que que eu aprendo? Acho que foi a questão realmente de ser, de soltar o que tem aqui dentro, eu até então não conseguia verbalizar muito, eu era mais fechada, não gostava das tais DRs que hoje eu entendo que são necessárias. Então, eu guardava muito e a Nat é uma pessoa, como ela disse, ela fala muito. E ela dizia assim pra mim “em um relacionamento não quero viver na superficialidade”. E no fundo eu não queria falar muito, porque eu não queria acessar muito o que tinha aqui dentro. Então acho que ela me ensinou que eu realmente mergulhasse em mim e acessasse o que tem aqui dentro, dores, angústias e coisas boas, e colocasse isso pra fora. E hoje eu consigo sim falar, eu falo até bastante hoje em dia, ela fala “Chega, agora não precisa falar tanto não” (risos das duas). Então foi isso que eu aprendi com ela.

Natalia: Eu aprendi a falar menos, ela aprendeu a falar mais (risos da Lorena).

Vocês trabalham com internet e, esse é um mundo que encontramos muita gente boa, mas também muita gente ruim, como vocês lidam com os comentários negativos sobre a relação de vocês?

Lorena: Bom, a gente sabe que não tem jeito, infelizmente no mundo ainda existe muita intolerância gratuita, um
ódio, muito preconceito em todos os sentidos, a gente vai sim receber alguns comentários, apesar de que a gente recebe uma avalanche de vibrações positivas. Mas claro, tem coisas, comentários, que são muito ofensivos, que querem realmente nos castrar, oprimir o que a gente sente, mas eu e a Nati, acho que a gente tem uma característica, somos muito parecidas, eu sempre digo, quando eu vou responder algo ou gravar algum vídeo, enfim, eu tento não ser reativa, porque se eu prego tanto que a gente vai conseguir, pra curar todo esse ódio a gente precisa do amor, então como é que eu vou responder, com raiva, com ódio as pessoas? Pra mim não faz sentido. Então eu tento sempre responder de uma maneira positiva, tentando ensinar pra que esse conteúdo talvez consiga entrar no coração das pessoas, pra que de repente a gente consiga conquistar mais uma pessoa, e que amanse esse coração. Claro, se tiver desrespeito, aí não. Aí o buraco já é mais embaixo.

Natalia: É, eu sempre digo que eu acho que apesar de a gente tá nessa exposição dentro dessa situação como casal homossexual de duas mulheres, a gente ainda assim é um casal muito privilegiado…

Lorena: por sermos brancas, enfim, classe social média…

Natalia: Exatamente, temos um espaço ali profissional e tudo mais. Então, eu acho que isso também nos protege muito dessas pessoas que acabam se escondendo um pouco mais pra falarem na nossa situação. Então a gente simplesmente ignora (risos), porque pra gente é tão pequeno, nesse sentido é triste obviamente, mas a gente não lida com elas, é como se fosse algo muito pequeno dentro do todo. Mas obviamente que a gente sabe que não é o mundo das mil maravilhas e a gente reconhece a nossa posição de privilegio dentro dessa situação.

De que forma vocês enxergam o impacto da sua relação para o público que acompanha o seu trabalho?

Lorena: Conversei isso com a Nati, que às vezes a gente não tem noção que realmente a gente inspira, que a gente encoraja, e atualmente eu tenho recebido muito feedback de pessoas que tem conseguido sair do armário. Então eu vejo de uma maneira muito linda, acho que não tem uma prepotência de querer transformar o mundo, mas se a gente conseguir ajudar uma pessoa que seja, nesse trabalho de formiguinha, já é muito bom. Então, eu acho que a gente traz visibilidade, eu acho que a gente traz representatividade, que a gente reforça a questão da garantia de direitos. Então, tudo isso é extremamente importante, eu acho que muitas pessoas já tem, trouxeram assim sabe? Que conseguiram vencer mais uma etapa desse medo, dessa insegurança, que um dia eu já estive dentro do armário durante 3 décadas, então eu tento sempre abraçar, dar esse acolhimento que talvez eu não tive no passado, e eu acho que eu enxergo esse impacto positivo.

Natalia: Eu acho que a gente soma, sabe? Dentro desse contexto todo, então eu acho que a cada nova pessoa que surge descobrindo sua própria identidade, soma né, porque assim, eu tenho as minhas particularidades, então eu sou uma mulher que trabalha num meio, no jornalismo, eu tenho um cargo de liderança numa empresa reconhecida, grande e então o fato de eu me reconhecer como uma mulher lésbica faz com que os outros ao redor falem “opa, então pera aí, então uma mulher em cargo de liderança, numa grande empresa pode ser uma mulher lésbica?”. E pode. Então eu acho que eu assumo esse papel, assim como a Lorena no vídeo, numa televisão, “pode ser uma mulher lésbica?”. Pode ser uma mulher lésbica. A gente vai criando uma rede ali de particularidades e ao mesmo tempo de coletividade nesse olhar todo, a gente vai aumentando, ampliando essa liberdade de sermos quem somos, sabe?

Que conselho vocês dariam para quem está em busca do seu final feliz?

Lorena: Eu começo dizendo “Respeite o seu tempo”. Vou repetir isso sempre, porque, na verdade não existe, eu gostaria muito que existisse um pozinho magico e uma magica pra fazer o plimplim pra que todas as
pessoas pudessem ter esse direito né, é o mínimo, é o respeito. Mas infelizmente, repito, a gente vive num mundo muito preconceituoso, então o que eu sempre digo é: “Respeite seu tempo”. Posteriormente busque ajuda, seja de um amigo próximo, seja de um familiar, seja de alguém nas redes sociais, hoje tem grupos que apoiam, pra dar esse acolhimento pra você se fortalecer, porque o mais importante é realmente você se fortalecer e ser quem você é, primeiro pra você, não precisa ser pra sociedade nesse inicio, mas pra você. Busque ajuda de uma terapia se possível e é isso. Acho que é muito difícil, não é fácil, a gente não pode dizer que é fácil, mas essa sensação de libertação, hoje eu penso que valeu a pena.

Natalia: Eu acho que eu diria pra não terem medo de perderem coisas por serem quem são. E coisas ou pessoas, enfim, eu acho que quando a gente reconhece a nossa própria orientação sexual, a gente as vezes tem medo, de perder o emprego, de perder um amigo ou da família ficar brava ou não falar mais com a gente, nada disso é real, até porque se de fato você perder o emprego por ser quem você é, é porque aquele emprego não era pra ser seu. E você pode ter certeza que vão aparecer novas oportunidades. Assim como pessoas, se for pra perder uma amizade por ser quem se é, é isso, vai surgir outra. Se um familiar, um pai, uma mãe, não entender logo de cara, dê o tempo que essa pessoa precisa pra reconhecer, então assim, não tenha medo de perder pessoas, perder coisas, por ser quem se é. Não é nenhum crime, não é nenhum pecado, eu acho que a gente precisa reconhecer isso e tirar o medo um pouco da frente, no seu tempo, assim como a Lorena falou. Mas foi assim comigo, foi assim com ela também, e deu muito certo.

Crédito - Daniel Okuyama
Crédito – Daniel Okuyama

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