As cantoras bissexuais e lésbicas na trilha de ‘Heartstopper’

Entretenimento Música

Por: Victoria Tuler

A aguardada série Heartstopper, da Netflix, é um sucesso de público e crítica. Além do capricho na adaptação dos quadrinhos de Alice Oseman, que levou a obra a se tornar a produção original da plataforma com a melhor avaliação no Rotten Tomatoes em 2022, outro detalhe chamou a atenção da audiência: a trilha musical. 

A música desempenha um papel importante na vida do protagonista, Charlie (Joe Locke), e passou por uma curadoria criteriosa para surtir o mesmo efeito durante o desenrolar da narrativa. Boa parte das faixas escolhidas, que foram compiladas numa mixtape oficial, é interpretada por artistas LGBTQIA+. 

Conheça agora as cantoras abertamente lésbicas e bissexuais (e que optam por outros rótulos correlatos, ou mesmo pela ausência deles, embora deixem claro que se relacionam com outras mulheres) que integram a trilha da série:

 

Baby Queen

Foto: Reprodução

Antes de mais nada, existe uma história que você precisa saber sobre Want Me, uma das canções de Heartstopper que vêm do repertório de Arabella Latham — o nome real de Baby Queen: a música foi escrita como uma homenagem a ninguém menos que Jodie Comer, a intérprete de Villanelle em Killing Eve

A letra de Want Me brinca com várias referências à serial killer mais carismática da televisão britânica, incluindo um trecho inteiro em francês e uma menção ao ônibus em que Villanelle e Eve trocaram seu primeiro beijo na série. A composição é um lamento divertido sobre a obsessão de Baby Queen por uma celebridade que nem sabe que ela existe.

A questão é que a cantora sempre falou abertamente sobre sua inspiração e, bem, Jodie Comer ficou sabendo. A atriz ouviu a música e enviou uma mensagem para Arabella no Instagram. Segundo o que Latham contou em uma entrevista para a agência Notion, Jodie “foi muito fofa sobre o assunto”. 

Esse acontecimento é uma boa síntese do trabalho lúdico, bem humorado e um tanto ácido de Baby Queen. Nascida na África do Sul e residente em Londres, Arabella é bissexual e leva as peculiaridades das relações humanas para seu trabalho, que flerta com o pop alternativo. 

Além de compor sobre suas experiências com garotas, ela também disserta com uma criticidade antropológica sobre comportamentos de sua geração, como acontece na faixa Internet Religion. Esporadicamente, publica covers de artistas como Phoebe Bridgers e Taylor Swift em seu canal no YouTube

Músicas em Heartstopper: Want Me e Dover Beach (Episódio 1); Buzzkill (Episódio 5)

 

girl in red

Foto: Reprodução

Queridinha da cena alternativa, girl in red causou polêmica em 2020 após conceder uma entrevista para o South China Morning Post e dizer: “Sei que muitas pessoas afirmam que eu sou lésbica, mas essa é minha palavra menos favorita no mundo”. A cantora passou a se identificar como queer, termo guarda-chuva que, embora vago no contexto brasileiro e sem uma tradução precisa para o português, vem ganhando força como identidade nos países de língua inglesa já há alguns anos. 

Apesar da controvérsia, Marie Ulven, nome real da artista, continua sendo uma referência para mulheres bissexuais e lésbicas por conta de seu primeiro EP, chapter 1, lançado em 2018. O compilado conta com um de seus maiores sucessos, i wanna be your girlfriend, em que se declara para uma garota chamada Hannah.

Músicas em Heartstopper: Girls (Episódio 2).

 

beabadoobee 

Foto: Reprodução

beabadoobee é a persona artística de Beatrice Laus, filipina radicada no Reino Unido de apenas 21 anos. Ganhou projeção internacional entre os fãs de indie rock ao abrir as turnês da banda The 1975, entre 2018 e 2020, e de Clairo, em 2019. Também em 2020, ela arrematou o prêmio Rising Star no Brit Awards. O reconhecimento é entregue pela associação da indústria fonográfica britânica ao nome com maior potencial de fazer sucesso nos próximos anos. 

Bea, como gosta de ser chamada, é bissexual e vem de uma família muito tradicional. Não à toa, boa parte de seu EP mais popular, Patched Up, mescla narrativas sobre relacionamentos amorosos e o conflito interior com sua própria saúde mental. 

Músicas em Heartstopper: Dance With Me (Episódio 2); If You Want To (Episódio 5); Tired (Episódio 7).

 

Rina Sawayama

Foto: Reprodução

Já falamos da Rina recentemente em nossa lista de cantoras lésbicas e bissexuais que você precisa conhecer. E é claro que o hyperpop de um dos nomes do momento na indústria britânica não poderia ficar de fora da trilha de Heartstopper.

Nascida no Japão e criada em Londres, Sawayama se identifica como pansexual. Ela começou a chamar a atenção da crítica em 2017, graças ao lançamento do single Cyber Stockholm Syndrome, que fala sobre uma garota envolvida em um webnamoro a ponto de não conseguir mais se concentrar em nenhuma experiência que vivencia offline.

Por coincidência ou não, LUCID, faixa que Rina emplacou em Heartstopper, também faz parte da trilha musical de outra série favorita da comunidade lésbica — The Sex Lives of College Girls, da HBO. 

Músicas em Heartstopper: LUCID (Episódio 3).

 

Shura

Foto: Reprodução

Shura, que atende pelo nome de Alexandra Denton, é uma das expoentes do renascimento do electropop. Autodidata, aprendeu a operar softwares de produção musical por conta própria, explorando os programas de computador durante seus turnos mais tranquilos no trabalho. A aptidão permitiu que ela ganhasse autonomia ao se tornar a principal engenheira por trás de seu próprio som. 

Lésbica, Alexandra faz de suas experiências românticas uma matéria-prima recorrente para seu trabalho. Elevator Girl, por exemplo, é fruto de uma epifania enquanto a cantora estava no elevador de um hotel, subindo até seu quarto no 22º andar durante um primeiro encontro. 

Apesar de ser da escola do synth-pop, subgênero conhecido pelos sintetizadores de festas e baladas, o estilo de Shura é profundamente emotivo e melancólico, mesmo quando as letras não são exatamente tristes. 

Músicas em Heartstopper: What’s It Gonna Be? (Episódio 4).

 

mxmtoon

Foto: Reprodução

Maia, ou mxmtoon, já se apresentou em múltiplas ocasiões como “uma mulher jovem e bissexual não-branca vinda de uma família de imigrantes”. Como a descrição sugere, sua música é fruto de um mix de referências diversas. 

Embora seja profundamente influenciada pelo emocore e sempre cite a banda The Black Keys como uma de suas maiores inspirações, a cantora tem a incorporação do ukulele como marca registrada de seu trabalho. 

A atuação como letrista é um dos grandes pontos altos de Maia. Suas composições são confessionais, baseadas em experiências particulares, e contam histórias sobre vivências universais.

Músicas em Heartstopper: Fever Dream (Episódio 5).

 

Chloe Moriondo

Foto: Reprodução | Syd Ostrander

Chloe Moriondo tem apenas 19 anos e ganhou visibilidade graças à sua carreira como youtuber. Atualmente, seu canal conta com mais de 3 milhões de inscritos. 

Sua trajetória profissional na música é recente. Depois de lançar um álbum independente em 2018, seu primeiro trabalho com uma gravadora, Blood Bunny, saiu em maio do ano passado com uma divulgação discreta. Durante parte do segundo semestre de 2022, Chloe será a responsável pelos shows de abertura da turnê norte-americana de mxmtoon.

Por muito tempo, Moriondo se identificou publicamente como lésbica. Entretanto, em 2021, ela anunciou pelo Twitter que não se sentia mais confortável com esse rótulo, embora ainda goste de meninas. 

Músicas em Heartstopper: I Want To Be With You (Episódio 5).

 

Montaigne

Foto: Reprodução | The Australian

A bissexualidade é uma bandeira que a australiana Montaigne tem orgulho de levantar. Representante de um pop ousado, que faz questão de brincar com elementos de vários gêneros musicais (sobretudo da PC music), costuma cantar propositalmente sobre homens e mulheres como um discurso político sobre sua sexualidade. 

No ano passado, Montaigne deu um passo importante: levou a canção Technicolour para o Eurovision, uma das competições musicais mais importantes do mundo. Com uma mensagem de união e empatia, a faixa fala diretamente sobre o orgulho de pertencer à comunidade LGBTQ+.

Músicas em Heartstopper: Because I Love You (Episódio 8).

 

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