Inez começou sua trajetória como atriz em 1984 e posteriormente expandiu sua atuação para a direção teatral, tornando-se também professora e, mais recentemente, dramaturga. Ela é autora do livro de dramaturgia “A Última Peça”, publicado em 2018 pela editora Cobogó, e também escreveu outras peças notáveis, como “Partida” e “Peça para dois atores antes do fim”. Inez Viana já atuou em inúmeras peças, novelas e filmes, e sua carreira como diretora abrange mais de 20 espetáculos. Atualmente, Inez Viana está atuando na novela “Terra e Paixão”, da TV Globo, interpretando a personagem Angelina, consolidando sua presença na televisão brasileira.
Com uma carreira repleta de realizações e reconhecimento, Inez Viana se destaca como uma figura notável no cenário artístico do Brasil, sendo uma referência inspiradora mulheres lésbicas que encontram na sua história uma representação valiosa e inspiradora.
Como foi o processo para entender a sua sexualidade? Você teve alguém na mídia que era referência para você que te ajudou?
Acho que não contrariei meus sentimentos. Quando me apaixonei por uma mulher, eu preferi viver a paixão, apesar da novidade que acabava de entrar na minha vida, ainda mais porque já havia passado dos 40.
A existência de pessoas lésbicas na mídia reforça vitórias e existências dentro e fora das telinhas e é comum existir pressão para se assumir publicamente. Como foi lidar com essa pressão em relação à sua família, amigos e/ou trabalho? E como isso afetou sua vida?
É muito importante a representatividade através das pessoas públicas, mas cada uma/um tem seu momento de sair do armário, temos que respeitar. A minha família foi a primeira a saber, ninguém se opôs, pelo contrário, e isso afetou-me de forma positiva, me trazendo mais coragem e acolhimento.
Quais os desafios da sua trajetória até o momento atual? E os processos para você chegar onde está?
O desafio é seguir sendo quem sou, sem deixar que o medo e a hostilidade me paralisem.
A heteronormatividade é uma realidade na indústria do entretenimento. Como você lida com as expectativas e as pressões relacionadas a isso? E com base na sua experiência, quais são as mudanças que você gostaria de ver na indústria para promover uma maior aceitação para a comunidade lésbica?
Acredito que a mudança seja lenta, mas está a vir. Quanto mais as relações forem sendo naturalizadas, maior aceitação por parte da sociedade elas terão, com menos tabus, menos discriminação e preconceito.
Qual é a importância de ter espaços seguros e de apoio para artistas da comunidade lésbica na indústria? Você encontrou comunidades ou grupos de apoio que foram essenciais para você durante sua jornada?
Super importante que esse apoio aconteça de forma total, pois ele te protege, além de estabelecer um relacionamento horizontal, ou seja, seu talento não se manifesta através de sua orientação sexual, mas por seu trabalho, estudo, pesquisa, etc.
Compreender que lidar com questões de posicionamentos, sexualidade e identidade no local de trabalho é complicado. Já ocorreu de perder oportunidades de trabalho? Como você lidou com essas situações?
Nunca aconteceu comigo de perder trabalho por conta de minha orientação sexual. Pelo menos, não que eu saiba (risos).
De todos os seus trabalhos, qual foi o que mais te marcou e por quê?
A peça “Por favor, Venha Voando”, que foi a comemoração dos 10 anos de casamento com a minha ex-companheira. Foi lindo fazer esse espetáculo, que falava sobretudo de amor, e ele acontecer numa instituição como o CCBB, ter lotado todas as suas sessões, e saber que, de alguma forma, podíamos estar inspirando alguém.
Em algum momento o medo de ser quem é te paralisou? Como você enfrentou isso?
A análise me ajudou bastante a não sucumbir pelo medo.
Você já teve experiências positivas ou negativas de compartilhar sua história e vivência com outras pessoas? Como isso impactou você?
Eu tive experiências positivas. É sempre importante falar sobre seus reais sentimentos. Seu exemplo pode ajudar outras pessoas.
Se você pudesse dar um conselho para si mesmo quando estava lidando com o medo em relação à sua sexualidade, qual seria?
O coração há de bater sempre no compasso. É preciso escutá-lo e seguí-lo, para não atravessar suas batidas.