Crítica | O segredo do sucesso de “Dangerous Queen”: a emoção que supera a técnica

Crítica Girls Love

Por Laura Magro

Entre tantas produções lésbicas — especialmente as tailandesas — Dangerous Queen se destaca por um motivo simples, mas poderoso: ela conquista o público pelo afeto. A série é modesta, com orçamento reduzido e limitações técnicas por vezes visíveis; ainda assim, alcançou uma popularidade que muitas produções milionárias não conseguiram. E isso está longe de ser coincidência.

Dangerous Queen pode não ter recursos para entregar uma cinematografia impecável, mas compensa com um casal cuja química é simplesmente irresistível. Cada cena, cada troca de olhar e cada conflito é carregado de uma intensidade emocional que prende o espectador. É esse sentimento, presente em cada pedacinho da produção, que faz a série funcionar.

A trama acompanha Bonita, interpretada por Nur Desoraya, uma jovem estudante da periferia da Tailândia que lida com a mãe, dependente de apostas. Para pagar a faculdade e se manter, ela começa a trabalhar em um bar, onde conhece Queen, vivida por Tangkwa Phinyanech, herdeira de uma empresa multimilionária. Desde o primeiro encontro, a dinâmica entre elas é magnética: Queen acredita que o dinheiro abre portas; Bonita, por outro lado, jamais negocia seu caráter.

Uma das cenas que melhor cristaliza esse contraste acontece quando, escondidas em um cômodo apertado, Queen força um beijo em Bo — mesmo após repetidos avisos para que não o fizesse. A reação de Bonita deixa claro o limite. E é ali que Queen percebe que, pela primeira vez, o dinheiro não compra o que ela quer. Se deseja conquistar Bo, terá que fazê-lo de maneira genuína. Esse momento é um ponto de virada tanto para as personagens quanto para o público.

O ritmo do romance é outro mérito da produção: vai no tempo certo, sem correr e sem se arrastar. E não dá para dizer que a série “hitou” por apelar — porque não apela. As cenas de sexo entre Queen e Bo são delicadas, trabalhadas no não dito, no toque sugerido, nos planos fechados que mostram menos do que insinuam. Ainda assim, ou talvez justamente por isso, o desejo, a intimidade e a intensidade entre elas é palpável.

Bo e Queen em Dangerous Queen | Foto: Reprodução

Ainda que simples, o roteiro é surpreendentemente coerente. As personagens mantêm suas características do início ao fim, crescendo quando a narrativa exige. Isso fica evidente em um dos clímax da história, quando o casal se separa. Bo permanece fiel ao que acredita — e ao que sente — ao recusar oportunidades de ceder à ganância. Em nome do bem-estar de sua amada, ela sacrifica o próprio desejo, aceitando a manipulação da mãe de Queen e mentindo, alegando nunca ter amado a herdeira de verdade. Já Queen, mesmo sabendo que Bonita jamais ligaria para dinheiro, não corre atrás dela: aprendeu a respeitar os limites de Bo — e os seus próprios.

O desfecho também funciona muito bem ao evitar arcos artificiais de redenção. Os vilões recebem finais condizentes com suas ações, especialmente Kem, amigo de Bo cuja obsessão tóxica o leva ao extremo, e Kongtup, rival de Queen que repetidamente tentou eliminá-la. A exceção é a mãe de Queen, que nunca foi de fato uma vilã, mas uma mulher moldada por um ambiente elitista. Sua mudança de postura ao aceitar o relacionamento das duas não é só coerente: é satisfatória.

No fim, Dangerous Queen prova que a força essencial de uma obra audiovisual não está apenas na técnica, mas na emoção que ela consegue transmitir. Para isso, é preciso sensibilidade — e Nur, que além de protagonista também assina como produtora executiva, coloca isso em tela o tempo todo: cuidado, carinho e atenção, inclusive na escolha do elenco. Não por acaso, Nur e Tangkwa têm uma conexão real que atravessa as câmeras e sustenta a série do início ao fim.

Dangerous Queen pode não ter a melhor fotografia, o melhor áudio ou o roteiro mais polido. Pode não ser perfeita, mas tem uma narrativa envolvente, boas atuações e, principalmente, a química arrebatadora entre Queen e Bonita. E justamente por isso é tão fácil amá-la.

 

Foto em destaque: Reprodução

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