Além das fics refletirem afetos que muitas vezes são esquecidos, a fácil produção e distribuição dessas histórias atraem cada vez mais pessoas de todas as idades para sua leitura.
Por Vitória Vasconcelos
As fanfics estão cada vez mais tomando lugar no momento de lazer entre pessoas de todas as idades, não somente no Brasil, mas em outros países pelo globo. Tanto a sua escrita quanto a leitura tem se tornado um novo estilo de diversão que vem, aos poucos, se equiparando, em sua importância, à leitura dos livros de papel.
Para Ana “Luka” Caroline Gomes da Silva, 29, a popularidade das fanfictions vem principalmente dos leitores já serem cativados anteriormente pelos personagens e anseiam por vê-los tomando frente em outros enredos e universos. Luka ainda menciona que por serem de fácil acesso, mais pessoas podem ler. “Todos esses fatos podem ser um grande contribuinte para o aumento do consumo desse tipo de literatura”, cita.
E o que começou em páginas de redes sociais, como o Orkut e o Tumblr, passou a crescer de maneira tão explosiva que sites especializados em divulgar esses conteúdos foram criados. É o caso dos Social Spirit, Wattpad, e do AO3, este último costuma ser muito usado para calcular a popularidade de um shipp (diminutivo da palavra em inglês “relationship”, relacionamento).
Por conta dessa possibilidade de criar novos casais dentro de um universo pré-existente, muitas pessoas podem dar uma segunda chance ao seu casal que foi injustiçado na sua mídia original. E é aí que entram as escritas de fanfics que trazem mais representatividade para o público e, principalmente, os personagens LGBTQIA+, uma vez que os mesmo acabam num ciclo de morte, solidão, pouco desenvolvimento e tempo em tela ou tem até mesmo as séries as quais pertencem canceladas.
Esse é o caso do escritor e fanfiqueiro (como pessoas que escrevem fanfics são chamadas) Victor Hugo Carolina Françoso, 26, a pouca representatividade midiática foi uma das coisas que impulsionou sua escrita de histórias com casais LGBTQIA+. “Acredito que a necessidade de escrever fanfic veio justamente da falta de representatividade. As pessoas querem ver histórias onde hajam pessoas LGBTQ como elas. Querem ver seus afetos refletidos. Querem se sentir parte de algo”, explicou.
Já para a escritora de fics AUs Stephany Pennington, 29, a criação destas histórias ajuda a corrigir a falta de representatividade de casais sáficos e o uso de mulheres em queerbait (nome dado quando um casal é falsamente criado apenas para atrair público LGBTQIA+), como foi, para ela, o caso de escrever sobre o casal Hosie (shipp entre Josie Saltzman e Hope Mikaelson da série Legacies). “Na maioria das vezes que se tem um casal sáfico promissor dentro de uma série, eles usam como queerbait, matam alguém do casal ou até mesmo cancelam a série”, ressalta.
Stephany ainda frisa que devemos lutar por “mais direito das mulheres de realmente se amarem e terem seus relacionamentos levados a sério nas séries para que possam se sentir seguras de os fazer na vida real”.
A escritora de fanfics Supercorp (Lena Luthor e Supergirl), Bruna Goes, 33, começou a criar histórias novas para o casal quando percebeu que a emissora responsável pela produção de Supergirl estava “jogando” com o fãs para atrair audiência para o show. “A frustração de assistir eles destruindo todo o desenvolvimento construído na 2ª temporada me motivou a começar a escrever sobre o que eu gostaria de assistir”, elucidou.
A autora Andressa de Sales Cavalheiro, 27, relata que a escrita de fics aumenta a visibilidade entre casais que não tiveram o final merecido em suas mídias originais. Swanqueen (Emma Swan e a Rainha Má, também conhecida como Regina Mills, de Once Upon A Time), assim como Supercorp, foi alvo de inúmeras fanfics para suprir o relacionamento das duas na sua série de origem.
Inclusive para a estudante e leitora assídua de fanfics, Laura Tainá Sales Bandeira, 21, seu contato com essas histórias se iniciou ainda na pré-adolescência, quando a mesma procurou suprir a falta de representação de casais formados por mulheres e o queerbait da mídia. “Eu fico muito triste e me sinto apagada. Quando achamos que finalmente vamos nos reconhecer nas telas, recebemos queerbaiting. Isso quando não dão um fim trágico às personagens”, relata.
É muito importante ter esses espaços para que possamos contar nossas próprias histórias. A matéria ficou incrível! Foi uma honra participar. ❤