O protesto, intitulado “Ni Una Menos”, será em prol também das mulheres lésbicas e luta por justiça ao triplo lesbocídio que ocorreu em maio no bairro de Barracas, no sul de Buenos Aires
Por Vitória Vasconcelos
Intitulada de “3J – Ni Una Menos”, um protesto reividica o banco dos réus do Congresso Nacional Argentino contra o atentado e assassinato de três mulheres lesbicas que ocorreu Buenos Aires no mês passado. A passeata aconteceu nesta segunda-feira, 3, com início às 16h30 (horário da Argentina) e contou com membros da comunidade LGBTQIAP+ e ativistas feministas que pedem por justiça pelo triplo lesbocídio.
Para a professora Lucía Cavallero, ativista do grupo de mulheres Ni Una Menos, o ato deste ano também é em prol da defesa de mulheres lésbicas. “Este ano nosso principal slogan é tornar visível que o recente massacre de Barracas foi um triplo lesbicídio e que ‘Ni Una Menos também’ é ‘Ni Una Lesbiana Menos’”, explica Lucía.
Na rede social do Ni Una Menos, o grupo chama as pessoas a irem para as ruas em busca de respostas do governo às suas diferentes demandas. “Porque não é liberdade, é ódio. Porque não suportamos mais a crueldade de um Governo que se orgulha de não entregar alimentos, que promove o ódio contra mulheres lésbicas, travestis, trans, não binárias, queer e intersexuais”, convoca a publicação no Instagram.
Apesar do crime bárbaro acontecido no bairro Barracas, o Presidente argentino, Javier Milei, se manteve calado sobre o assunto e o caso passou praticamente despercebido pelas imprensas locais, apesar das denúncias feitas por organizações LGBTQIAP+.
O porta-voz do Presidente, Manuel Adorni, ao se pronunciar sobre o acontecido disse que não gostava de definir como um ataque a um determinado coletivo. “Penso que é muito injusto falar apenas deste episódio, quando a violência é algo muito mais abrangente do que simplesmente uma questão contra um determinado coletivo”, falou Adorni em declaração oficial.
Triplo Lesbocídio
Na noite do domingo 5 de maio, Pamela Cobas, Mercedes Roxana Figueroa, Andrea Amarante e Sofia Castro Riglos foram vítimas de um ataque motivado por lesbofobia. Justo Fernando Barrientos, o autor do crime, também era inquilino na pensão que as mulheres estavam no bairro de Barracas, no sul de Buenos Aires.
Após o ataque com um artefato explosivo caseiro, três das quatro mulheres chegaram a óbito por complicações dos ferimentos. Pamela morreu horas depois devido a gravidade em que estava, sua companheira, Mercedes, foi internada com 90% do corpo queimado e faleceu dois dias depois e, após uma semana, Andrea também morreu com 75% do corpo queimado. “Quando elas saíram do quarto em chamas, ele bateu-lhes e empurrou-as de volta para o fogo”, relatou uma testemunha do crime à Agencia Presentes.
Barrientos foi encontrado pela polícia argentina em uma das casas de banho pertencentes à pensão, o lesbocida tinha feridas auto-infligidas nas quais usou insultos contra as mulheres. Além disso, ele também já tinha sido flagrado tendo discussões com as vítimas, principalmente com Mercedes e Pamela, que viviam na pensão e estavam apenas acolhendo as amigas.
Lesbocidio no Brasil
Neste ano, o Brasil ficou em choque pelo sequestro e assassinato de Ana Caroline Campêlo, a jovem de 21 anos morava no município de Maranhãozinho (MA), era lésbica, negra e não-feminilizada. Carol foi sequestrada na saída do seu emprego no dia 10 de dezembro de 2023 e seu corpo foi encontrado com sinais de tortura.
Outro caso semelhante ainda em 2024, foi o assassinato com requintes de crueldade de uma mulher lésbica no municípo de Cruz, no estado do Ceará. E para Eva Carreira, representante lésbica da Bahia pelo coletivo MET Bronca, esses casos não são computados nos registros oficiais de feminicídio ou homicídio, o que dificulda a mensuração dos casos de lesbocídio no país.
“Para podermos saber quantas das nossas estão sendo brutalmente tombadas e, de uma forma mais segura, lutarmos para a diminuição do lesbocídio, sabermos a linha que os assassinos usam para cometerem o lesbocídio. Desta forma vamos intensificar os atos para estarmos mais seguras e abarcadas pela segurança pública e o poder judiciário”, explicou Eva em entrevista.
Foto em destaque: Fabian Marelli