Nota IMDB: 7.0 | Rotten Tomatoes: 94%
Em muitas instâncias, A Vida Depois se desenrola com ares de um coming of age como qualquer outro.
Por: Victoria Tuler
O ensino médio é a época da vida em que todas as forças estão concentradas na construção de quem vamos ser. Nessa fase, é natural que nossos olhares e expectativas estejam voltados para a frente, onde o futuro está. A Vida Depois (2021, HBO Max) reflete sobre como o luto e o medo são capazes de fazer um grupo de adolescentes criar raízes no passado, na memória de um evento traumático, sem expectativa de ir a lugar algum porque a mera ideia de se mover para enfrentar a realidade é dolorosa demais.
O filme conta a história de Vada (Jenna Ortega, de Pânico 5 e X), uma estudante aplicada com senso de humor ácido que divide suas horas livres entre a irmã mais nova, Amelia, e o melhor amigo, Nick.
A rotina pacata da garota é modificada para sempre em um intervalo de 6 minutos — tempo que um colega de Vada demora para orquestrar um tiroteio em massa e assassinar vários alunos da escola que ambos frequentam. A partir de então, ela precisa lidar com os impactos da tragédia em sua saúde mental e emocional.
Em muitas instâncias, A Vida Depois se desenrola com ares de um coming of age como qualquer outro. Apesar da atmosfera melancólica que a história exige, a protagonista navega por algumas descobertas típicas da transição para a idade adulta, como a experimentação com a própria sexualidade, álcool e drogas. Muitas dessas cenas são estruturadas com leveza e até permitem ao espectador o luxo de esboçar um sorriso. Contudo, é impossível ignorar que todas as ações de Vada são uma tentativa de se livrar do vazio que a acomete desde a manhã em que ela foi confrontada por uma verdade aterradora: não há um grande porquê na sobrevivência de alguns e partida de outros. A vida é um conjunto de aleatoriedades e a maior parte dos acontecimentos ruins não têm uma explicação lógica. Cabe a cada um aprender a conviver com a ausência de um grande propósito nos eventos que partem nossos corações de maneiras irreparáveis.
Em meio a sua crise existencial, a personagem só se sente plenamente compreendida por dois colegas que estavam presos com ela no banheiro da escola, no mesmo corredor em que o atirador fazia os disparos: Quinton (Niles Fitch, de This is Us) e Mia (Maddie Ziegler, de quem você talvez lembre como a garotinha que dançava nos clipes da Sia). O caráter terapêutico das conversas sobre o trauma compartilhado com os novos amigos e sua afeição crescente por Mia são o que ajuda Vada a elaborar seus sentimentos sobre a perda — não só de conhecidos, mas também de sua própria inocência.
A Vida Depois trabalha um tema espinhoso e, por isso, tinha tudo para recair no melodrama. Na prática, não é o que acontece. Embora brutalmente doloroso em muitos momentos, a narrativa consegue pintar um retrato muito verossímil do processo de luto, com sua montanha-russa de alguns dias mais difíceis que outros. O uso assertivo dos silêncios incômodos e as excelentes atuações (com destaque para Jenna Ortega, o nome do momento em Hollywood) ajudam a transformar um enredo muito difícil em uma jornada bonita e quase catártica. As relações familiares de Vada (sobretudo com a irmã caçula, com quem protagoniza um diálogo chave para a história) são a cereja do bolo da composição poética e sensível do filme.
A obra também oferece uma abordagem inovadora, sincera e muito competente da geração Z, imprimindo as opiniões dos adolescentes de hoje com muita naturalidade, transitando por assuntos como sexo, identidade e redes sociais. O feito é particularmente impressionante por esse ser o primeiro longa-metragem da diretora e roteirista, Megan Park (conhecida pelo trabalho como atriz na série The Secret Life of the American Teenager), que conseguiu executar o projeto de maneira consistente o bastante para que A Vida Depois se torne um daqueles filmes que, assim como a experiência de Vada, é impossível de esquecer.