Entre liberdades e o sucesso, “Caiam as Rosas Brancas!” retrata uma jornada de descoberta no audiovisual

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O longa metragem de Albertina Carri acompanha uma diretora amadora que faz sucesso com a produção de um pornô amador e, ao ser contratada para realizar um novo projeto para as massas, entra em conflito com seus ideais

Por Vitória Vasconcelos

Trazendo a história de mulheres fortes que embarcam no universo da produção de um filme pornô em meio às suas descobertas pessoais, o longa-metragem “Caiam as Rosas Brancas!” é a sétima produção de Albertina Carri.

A película nos leva para conhecer a história de Violeta, uma jovem diretora de cinema que fez um filme pornô amador lésbico com seu grupo de amigas. Após o sucesso do projeto, ela acaba sendo contratada para dirigir um pornô dentro dos parâmetros mainstream, entretanto, suas ideias cinematográficas e sexuais sobre gênero se tornam um embate para a conclusão do novo filme.

Para saber mais sobre os bastidores de “Caiam as Rosas Brancas!”, o Lesbocine” convidou as mulheres por trás do longa.

Lesbocine: Gostaria de começar lhe perguntando como foi dirigir esse filme.

Albertina Carri: Bom, foi um filme complexo em termos de direção, porque tem muitos gêneros, muitos locais, muitas atrizes. Então, pode-se dizer que isso exigiu muita sutileza. E também foi um filme complexo em termos de produção, porque envolve três países; é uma coprodução entre Argentina, Brasil e Espanha. Então isso também exigiu uma arquitetura e configuração muito complexas, digamos, para fazer o filme. Mas ei, também foi muito divertido de fazer, não foi? Com todos os desafios de viajar e trabalhar com tantas pessoas, e em locais tão diversos, mesmo em lugares onde não havia nem logística para filmar. Então tivemos que, mais uma vez, inventar sistemas e métodos de trabalho e todas essas coisas. É divertido e exaustivo.

L: O longa leva o título de “Caiam as Rosas Brancas!”, pode falar um pouco da escolha desse nome?

AC: O título é um presente de Gerard de Nerval. Gerard de Nerval é o escritor de “As Filhas do Fogo”, ou seja, do romance “As Filhas do Fogo”, em francês. Esse romance é uma coleção de histórias sobre estereótipos femininos da época, final do século XIX. Então, no filme anterior, pegamos o título “Filhas do Fogo”, um pouco como se estivéssemos reelaborando essa ideia de estereótipos. E “Caiam as Rosas Brancas!” é um verso de um soneto de Nerval. Então continuamos na linha Nerval.

Violeta tem de se reencontrar em meio à sua nova produção / Foto: Reprodução: Caiam as Rosas Brancas!

L: Que pontos da produção você poderia apontar que diferem e coincidem com as outras obras que você assinou?

AC: Não, nenhum deles é igual ao outro, porque meus filmes são todos muito diferentes uns dos outros. E cada um dos filmes, por mais diferentes que sejam entre si, também são muito diferentes do momento cinematográfico em que os fiz.

Portanto, eles não têm semelhança nesse sentido, porque cinema também é tecnologia, e isso muda radicalmente a forma como os filmes são feitos. Mas, além disso, a única coisa que eu poderia dizer sobre esse filme que tem algo parecido com o anterior é que ele é um coletivo. Então, mais uma vez, tratava-se de dirigir um grupo diante das câmeras, o que pode ser o mais próximo disso.

Mas também foi muito diferente nesse sentido, porque o filme anterior tinha muito mais espaço para busca dentro da filmagem, o que este não tinha, também porque havia um roteiro muito mais específico, mas também porque havia uma produção por trás dele que não nos permitia fazer esse tipo de busca. Então, essa busca foi mais um esforço preliminar, mas é só isso.

L: Durante o filme, há uma evolução e uma metamorfose nas personagens. Poderiam falar um pouco mais sobre essas mudanças?

AC: Olha, na verdade, é um coletivo de mulheres mais fixo, a protagonista está também no “Filhas do Fogo”, mas a minha personagem não tem essa curva dramática como as outras que já acompanham esse coletivo. A minha personagem vem para acrescentar. É uma grande produtora brasileira, então esse filme, uma parte dele é realizado. É o filme dentro do filme, né? É realizado dentro do Brasil, e eu faço a Angelice, que é uma produtora que o filme deixa no roteiro que é a maior produtora deste continente, de todos os outros. Então, tem essa questão.

Eu acho que, para mim, como uma travesti, esse filme traz o poder da mulher, a liberdade da mulher, a liberdade ao corpo, a liberdade ao amor, a liberdade entre o amor entre duas mulheres ou mais mulheres, liberdade ao amor, enfim. Eu acho que, da minha parte, vem mais nesse sentido, assim. E também de estar trocando com o cinema argentino, que é tão potente, tão conhecido.

Poder estar trocando. Eu, como atriz brasileira, estar participando desse processo, para mim também é muito louvável, porque é um filme feminino. O filme é feminino e pensado pelo feminino, então ele tem uma profundidade que só o feminino pode trazer, essa profundidade.

“Caiam as Rosas Brancas!” junta um elenco e produção que já está há algum tempo junto em produções audiovisuais / Foto: Reprodução: Caiam as Rosas Brancas!

L: Você poderia falar sobre sua experiência com seu personagem?

Rocío Zuviría: Sim, para mim foi muito divertido porque percebi que ela era muito mais parecida comigo do que eu pensava no início e o tempo todo me vejo em situações de Carmen muito encolhida no meu celular e em uma experiência de querer ajudar alguém em algo que poderia ser um ativismo e sempre puxando todos os meus amigos para longe, para a província de Misiones, porque acho que isso tem um significado e é válido e ninguém me entende e eu estou sempre fora do que os outros estão passando e sempre a última a entender, a última a se converter em cada gênero, parece-me, em cada transmutação das personagens, eu sou a última a entrar, não eu, Carmen, mas também foi muito legal porque nos preparamos muito e fizemos alguns treinamentos para poder chegar a diferentes lugares de atuação em diferentes intensidades que cada personagem poderia dar, treinamos com excelentes atrizes argentinas que fazem parte de um grupo de mulheres chamado Piel de Lava, Vale Correa e Laura Paredes que também nos ajudaram muito a montar os personagens foi um desafio de atuação muito diferente em relação às Filhas do Fogo onde o desafio era mais sobre colocar o corpo na pornografia através de coisas que talvez para nós estivessem mais próximas da nossa experiência ativista e de grupo, isso era mais, tínhamos que nos esforçar muito mais no mundo e eu gostava muito, pelo menos era muito divertido fazer isso e viajar e conhecer o Brasil, por exemplo filmar lá, maravilhoso Carlos Las Dorosas Brancas, você é uma boa parte do relenco e da equipe da sua produção anterior.

Mijal Katzowicz: Foi uma experiência, digamos assim, que envolveu muitas, muitas emoções, aprendizados, como eu estava dizendo, como o que eu ouvi do Rocío, muita convivência em diferentes localizações geográficas, foi uma filmagem complexa, bastante difícil. Mas digamos que com muita incerteza também e muitas mudanças ao longo do caminho, muitas modificações no roteiro, e assim por diante, mas acho que sempre acreditei que a força ou uma das forças do filme é que havia uma confiança cega e não tanto de alguma forma, uh, por um lado, já tendo passado pela experiência das “Filhas do Fogo”, então já tínhamos aquele histórico que de alguma forma nos deu força para este filme.

É também a confiança que Albertina Carry nos dirigiu e foi uma experiência que teve todas as cores digamos eh porque foi uma aventura literal. É ter trabalhado aqui na selva em Visions depois no monstro que é São Paulo e tudo o que implica trabalhar em outra língua com outra com outra eh com outro tipo de sociedade que tem outro tipo de pensamento em relação aos modos de produção, mas essa foi uma experiência muito enriquecedora, muito vertiginosa e com isso teve muita aventura pode-se dizer.

A película fala de descoberta e de desejo dentro de um grupo de amigas / Foto: Reprodução: Caiam as Rosas Brancas!

L: “Caiam as Rosas Brancas!” herda uma boa parte do elenco e da equipe da sua produção anterior, como é trabalhar novamente com essas pessoas?

AC: Claramente “Caiam as Rosas Brancas!” É um projeto que surgiu da experiência das “Filhas do Fogo”. Quer dizer, não é um filme que eu sonhava em fazer em casa, pelo contrário, é um filme que o coletivo “Daughters of Fire” me arrastou para fazer. Para começar, quando vieram até mim e me propuseram de alguma forma que fizéssemos “Daughters of Fire 2”. A primeira coisa que digo é que não recusei porque Daughters of Fire é uma experiência única. Fazer um filme pornô novamente não fazia sentido para mim, mas achei que fazia sentido trabalhar com as mesmas pessoas novamente e continuar desenvolvendo, mas não consegui me aprofundar nisso porque tinha um compartimento muito específico, que era a subversão do gênero pornográfico. Então, nesse sentido, o que me entusiasmou em fazer o filme foi trabalhar com o mesmo grupo, essa foi a grande armadilha, então nada, era tudo lucro. E também algo do que Ro estava me dizendo quando escrevi isso, eu não conhecia as meninas, eu as conheci através de um casting que um amigo nosso, um ativista dos direitos LGBTQIAPN+, fez, que não é uma pessoa que se dedica a fazer casting, mas é antropólogo como grande parte do elenco e a experiência de fazer aquele filme foi muito forte, digamos muito avassaladora em todos os sentidos, então depois disso quando eu comecei a pensar em fazer um filme novamente com todo esse grupo, com grande parte do grupo. Além disso, uma das coisas que eu gostei foi poder escrever os personagens diretamente para as atrizes que conheci. Então, também, parte do que a Ro estava falando, a gente estava levando com a equipe de roteiristas, a gente estava pegando características que a gente já sabia das nossas atrizes para passar para as personagens e dessa forma a gente potencializava o que cada uma tinha e isso foi um exercício super interessante porque é um exercício que eu trabalhei antecipadamente, como tudo da Ro só no treinamento, mas que depois também continua na filmagem e na pós-produção, até na edição, trabalhando essas características de cada uma.

Foto em destaque: Reprodução: Caiam as Rosas Brancas!

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