Por: Victoria Tuler
A segunda temporada de qualquer série sempre é um desafio narrativo. É preciso uma sala de roteiro bem alinhada para conduzir, com coerência, o desenvolvimento de personagens que acabaram de ser introduzidos e ainda não possuem um histórico robusto o suficiente para reduzir a possibilidade de inconsistências. A nova leva de episódios de Rebelde, que chega à Netflix amanhã (27), tem uma vantagem diante desse dilema: a escolha de produzir duas temporadas simultaneamente, facilitando a missão de continuar a narrativa do ponto em que parou.
O Lesbocine assistiu aos dois primeiros capítulos desse novo ciclo para os alunos da EWS e, até o momento, é possível dizer que os roteiristas fazem um ótimo trabalho aprofundando as principais tramas propostas e trabalhando as consequências dos conflitos que ditaram o ritmo da temporada anterior.
O clima no colégio é tensionado com a chegada de um novo professor, Gus, que surge para acirrar a atmosfera de competitividade entre os estudantes e abalar as alianças e conexões entre todos os núcleos principais. Essa mudança brusca de dinâmica promete bagunçar e intensificar, na mesma medida, um dos principais pilares de todas as versões de Rebelde produzidas até aqui: a ideia de que a jornada para encontrar a si mesmo só é possível por meio do pertencimento ao coletivo. É preciso descobrir seu lugar no mundo antes de se descobrir. Ponto positivo para a série, que não tem medo de arriscar ao questionar, logo de cara, uma de suas grandes certezas em nome de uma nova fonte de reviravoltas.
O relacionamento de Emilia e Andi é um dos mais abalados por essa reorganização no início da temporada. Dispostas a ficar juntas e protagonistas de algumas cenas de romance, as duas embarcam em um impasse ditado por um misto de ansiedade e ambição artística que, embora provavelmente vá causar alguma ansiedade aos fãs do casal, é completamente condizente com as personalidades de ambas. Os episódios iniciais não dão pistas do desfecho, mas deixam em aberto a possibilidade de que essa fase difícil entre as garotas possa ser uma oportunidade de amadurecimento para a dupla individualmente e como namoradas.
Outro destaque positivo é o desenvolvimento de MJ. Uma das preferidas do público cresce ainda mais e ocupa o espaço de uma das personagens mais interessantes de Rebelde até agora. Em parte, uma boa parcela dessa impressão se deve ao fato de que MJ é a síntese da energia de questionamento e auto descoberta que o enredo exige.
Jana e Esteban, por outro lado, seguem parecendo uma ponta solta que não encontra um espaço funcional para conversar com o restante da história. Mesmo as evidentes tentativas de surpreender não são capazes de despertar qualquer emoção que não a indiferença absoluta — ainda que Jana demonstre cada vez mais potencial para se tornar a protagonista potente que ambiciona ser.
De modo geral, a segunda temporada começa com um bom ritmo (em mais de um sentido, já que chega com uma produção musical ainda mais diversificada, divertida e nostálgica do que a primeira). Se o fôlego se mantiver até o final, Rebelde tem tudo para proporcionar um novo ano que fará a audiência roer as unhas.