Na obra de Tálita Heusi, inicialmente nos deparamos com uma trope um tanto conhecida. A temática da aproximação entre o casal a partir de um acordo ou aposta pode levar o leitor a comparar “Quase Sem Querer” com velhos conhecidos da literatura jovem, como “After” e “The Deal”, mas o livro de Heusi em nada se parece com os anteriores.
A premissa é provocante: Virginia, ou Vi, é desafiada pelo melhor amigo a se aproximar e beijar a garota nova da faculdade, Kim. Elas não se conhecem, sequer se viram antes, mas a conexão entre as duas é instantânea e de forte magnetismo. Virginia logo se sente profundamente ligada à caloura, mesmo que tente negar o máximo possível sua atração. Kim é musicista, talentosa, esportiva e está decidindo se segue sua carreira com a arte ou trilha um caminho mais sólido ao lado de seu namorado. Ela é exatamente o tipo de Vi, que luta contra seus próprios demônios e batalhas pessoais e é, aos olhos de Kim, um tanto misteriosa e completamente intrigante.
Há, ainda, uma terceira narradora, em minha opinião a mais interessante. Heusi insere, em meio ao romance de Vi e Kim, a história de Beverly, que parece um pouco deslocada até que se entenda o gancho que conecta a emocionante e sofrida trajetória da jovem com o restante do livro. Beverly vive um acontecimento traumático, que altera todo o seu percurso de vida e carrega o leitor em uma aventura dramática e extremamente comovente. A história de vida de Beverly em muito me emocionou, trouxe o conceito de found family e um epílogo inesperado e inspirador, e tenho certeza que vai agradar fortemente os leitores.
O que há de mais brilhante na escrita de Tálita Heusi é a maneira como tudo se conecta no final. Nada em suas obras é por acaso. Ao longo da história, os pontos vão se conectando, os personagens se revelam cada vez mais profundos e complexos. “Quase Sem Querer” é uma obra complexa. Provoca maturidade no leitor, faz-o entender que todo ser humano tem um passado a ser desvendado. Tem cenas fortes e também quentes, e é definitivamente dedicada a um público mais adulto e com fibra para acompanhar momentos tocantes e de alta tensão. É uma história pesada, mas também com brilhantes conexões e ensinamentos que somente uma mente muito intrincada seria capaz de escrever, tecer em forma de narrativa e costurar em uma obra concreta, sensível e organizada.