Entrevista com Anna Bagunceira sobre projetos profissionais, “Gap The Series” e muito mais

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Anna Júlia, mais conhecida como Anna Bagunceira, tem 27 anos, é lésbica, cantora e youtuber. Atualmente possui no seu canal principal mais de 540 mil inscritos. A jovem gaúcha iniciou sua carreira no entretenimento aos 15 anos através da música, e mais tarde decidiu se aventurar pelo mundo da internet. Em 2016, ela lançou seu primeiro EP oficial, intitulado #Abrakadabra”, e também criou o seu canal no Youtube, com a proposta de compartilhar com o público artistas, séries, filmes e músicas pelas quais era apaixonada!

Ao longo dos anos, Anna se tornou uma das principais referências para jovens mulheres lésbicas e bissexuais, trazendo para o seu público reações reais e sensíveis sobre personagens sáficas. Mesmo com as dificuldades de se inserir no mercado e de conseguir apoio de marcas, é graças ao engajamento do seu público, que Anna Bagunceira tem fechado parcerias incríveis e patrocínios como Globoplay, Brahma, Nova Panty, Club Social, Prime Video, e a mais recente com a HBO MAX.

O Lesbocine teve a oportunidade de conversar com a youtuber sobre os projetos profissionais, o cancelamento das séries com personagens sáficas, Gap The Series e muito mais. Confira:

Você é cantora e youtuber, e já produz conteúdo para internet há anos, conta para nós o que te incentivou a entrar para o mundo da internet?

Acredito que a liberdade de poder criar o que eu quisesse e principalmente ser eu mesma. Antes de entrar para o Youtube, eu já tinha contato com empresários e gravadoras, as condições pra fechar contratos tinham como pré-requisito eu ser heterossexual. Isso foi em 2015/2016, a heteronormatividade batia forte nesses ambientes. Depois de me decepcionar com isso tudo eu resolvi por a mão na massa do meu jeitinho, sendo quem eu sou e botei a cara no sol! No começo minha mãe ficou apreensiva, mas hoje ela segue meu trabalho e se orgulha muito de eu ter tido coragem lá trás. Devo isso à confiança e o abraço que os bagunceiros me deram desde o início.

Você constantemente fala sobre casais sáficos, mas a gente queria saber qual foi o primeiro que roubou o seu coração?

O primeiro casal que roubou meu coração foi Ashley e Spencer de “South of Nowhere”. Eu tinha 13 anos e não tinha como assistir por meios legais e nem com legendas. Aliás, foi por causa desse casal que me tornei fluente em inglês, eu queria entender tudinho e não perdia nada delas! Mas claro, nas condições da época, internet ruim, muito vírus no note e coragem pros pais não verem.

Seu canal é cheio de reacts e game plays extremamente divertidas, por conta disso o seu público expandiu a ponto de várias marcas fecharem contratos com você. Como você se sente fechando parcerias e patrocínios com plataformas grandes como a HBOMax?

Eu já havia fechado publicidade em 2022 com Globoplay e Prime Video, mas com HBOMAX foi especial no meu coração por ser de uma série como “The Last of Us”. A saga do jogo fez muito sucesso no canal e me trouxe oportunidade, pela primeira vez, de investir num PC e em equipamentos novos para o meu trabalho. Isso lá em 2020. Foi ali que as coisas do canal começaram a crescer e eu conquistei muitas coisas. Nunca imaginaria que 3 anos depois a plataforma que estaria produzindo uma série do jogo, me chamaria para fazer publicidade para divulgar a série. É uma conquista de toda comunidade, eu sendo uma Creator lésbica e sendo reconhecida por plataformas gigantes. Devo isso aos bagunceiros, sou muito grata!

Muito se fala sobre a  importância da representatividade LGBTQIA+ em séries e filmes, qual a sua opinião sobre esse tema? E você acredita que pode ser um agente para melhorar a nossa representatividade?

Wow, essa pergunta me trouxe responsa hein? Mas assim, o canal foi criado com o intuito de naturalizar as vivências LGBTQIA+, tanto pra pessoas da comunidade que ainda não se aceitaram e estão no processo, como pra pessoas que têm preconceitos com nossa comunidade e são bombardeadas de coisas negativas a nosso respeito. Meu objetivo é sempre trazer vivências da comunidade no dia a dia, normalizando isso na cabeça de quem ainda não aceitou nossa representatividade e mostrando como isso muda a sociedade sim! O entretenimento é algo consumido ao redor do planeta e que reflete uma sociedade. Se não incluímos nossas vivências nisso, somos excluídos dessa sociedade. Crescemos sendo ensinados a odiar LGBTQIA+ e isso foi colocado no entretenimento e na grande mídia por anos. Agora é nossa chance de aproveitar espaços como Youtube e outras mídias pra criarmos nosso espaço seguro e mostrarmos quem realmente somos e que devemos ser respeitados.

Anna Júlia com a sua namorada, Esther.

Existem muitas fãs de “Gap The Series” na equipe do Lesbocine, e nós sabemos o quanto você também é um viciada na série, para você porque essa série tem feito tanto sucesso entre nós?

GAP foi, na minha opinião, a primeira série estilo comédia romântica com protagonistas lésbicas. Trouxe a ideia de uma mulher rica e poderosa e uma menina tímida e pobre apaixonada por ela. Quantos clichês héteros conhecemos assim? Em novelas, filmes, series, tudo. Pra nós sáficas foi a primeira vez, me lembra uma comédia de novela das 18 da globo, sabe? É gostoso demais de assistir! As cenas de sexo não são explícitas e nem fetichizadas, são fofas e sensuais, lembrando muito as comédias românticas. Foi a primeira vez que tivemos isso e com certeza o sucesso se deve a isso também. A química das atrizes e a produção impecável também contribuíram muito pra isso, claro!

No último ano, várias séries com personagens sáficas foram canceladas por diversas plataformas, e isso tem desanimado as fãs. De que forma você acredita que possamos mudar essa realidade e salvar nossas séries favoritas desse final trágico?

Algumas plataformas produzem conteúdo LGBTQIA+ para apenas cumprir a “cota” e não dizer que são homofóbicos sabe? Em primeiro lugar, a maneira de mudar isso é evitarmos a pirataria e, fazermos com que mais pessoas de fora da bolha assistam e se identifiquem, assim como nos identificamos com tantas historias heteronormativas também. Não é porque somos lésbicas, LGBTQIA+, enfim, que não choramos e amamos “Titanic”, por exemplo. Precisamos normalizar a vivência LGBTQIA+ fora da bolha e, que mais pessoas assistam conteúdos sáficos e se identifiquem também. O problema é que muitas plataformas não fazem o mínimo esforço pra fazer isso sair da bolha. Mas acho que muitas coisas estão mudando, “The Last of Us” está trazendo vivências LGBTQIA+ gigantes com uma produção ENORME e muita divulgação. O episódio 3 garantiu muito choro com o casal Bill e Frank, e foi muito importante, pois muitas pessoas se identificaram, independente da sexualidade. Acho que é esse o caminho que outras plataformas deveriam seguir. A chuva de homofobia vem, óbvio, mas a série se manteve firme e forte, e o fandom ajudou muito a fortalecer. Então quando damos valor a essas plataformas e produções que de fato nos representam e estão contribuindo para mudar o cenário. Por isso, falo sobre evitar pirataria e valorizar quando esse espaço nos é dado.

Recentemente, você sofreu uma trollagem de alguém se passando pela Idol Factory em uma das suas lives, por isso queríamos saber como você lida com os haters?

A trollagem até hoje não sabemos qual foi o intuito, porque se foi hater, só deu mais hype pro canal HAHAHAHA…

Mas os haters estão aí sempre, eu lido com homofóbicos o tempo todo. Acho que o que mais me afeta é quando haters espalham mentiras sobre mim e sobre minha integridade como ser humano. Quando diminuem meu trabalho ou meu esforço. Mas eu já entendi que isso me afeta por causa de traumas da infância, então estou sabendo lidar melhor. E os haters vão te odiar independentemente, não adianta querer provar nada para eles. É aquela coisa, você pode acabar com a fome no mundo e eles vão dizer que você fez isso só pra ganhar hype. Assim a gente conclui que o problema do hater não é comigo, nem com fulano, nem ciclano, é com eles mesmos. Se eles estivessem bem, não estariam perdendo tempo me stalkeando pra jogar hate! Era só me ignorar, certo?

As redes sociais vêm passaram por diversas mudanças ao longo dos anos e isso até prejudicou a entrega dos seus vídeos, queríamos saber como você adapta as diferentes plataformas e a essas atualizações constantes?

As plataformas odeiam os criadores isso é fato! Por mais que plataformas como Youtube, Instagram, Tik Tok sejam ferramentas incríveis pAra um criador de conteúdo se estabilizar na mídia, elas também tiram nosso sossego! HAHAHA

A exigência por constância nas plataformas e o algoritmo desgastam muito a gente, mas precisamos nos adaptar. Eu entendi que preciso criar um público pra cada uma dessas plataformas e fidelizar eles, ou seja, não curto fazer vídeo de trend ou dancinhas (até pq sou PÉSSIMA NISSO HAHA), mas adoro criar historinhas e cenas do dia a dia que as pessoas se identifiquem. Isso também contribui pra que o conteúdo saia da bolha e atinja pessoas diferentes. Eu tenho adorado criar conteúdos pras outras plataformas e que depois eu acabo utilizando pro Youtube também! E claro, o retorno do público foi essencial, ajuda muito a gente a não desanimar e manter a frequência de postagens exigidas pelas plataformas!

Anna, deixa uma mensagem para o seus fãs e para a galera que ainda não conhece o seu trabalho.

Bagunceiros são tudo na minha vida, real! Se não fosse por eles, eu não estaria conquistando tudo isso hoje. É clichê dizer isso? SIM HAHAHA… Mas é inevitável. Eu passei por coisas bizarras ao longo da vida e nunca pensei que estaria onde estou hoje e isso tudo é porque cada um dos bagunceiros, que confiaram em mim e acreditaram no meu trabalho. Eu sempre falo que o que estamos construindo vai além de uma criadora de conteúdo e um fandom, são pessoas que se deram as mãos e acreditaram num projeto que eu espero que mude a perspectiva que a sociedade tem de nós, LGBTQIA+. Quero ver a gente em todo canto, sendo acolhido e representado, e isso vai acontecer, eu acredito! Então obrigado bagunceiros, por mudarem a minha vida e a vida de tanta gente, acreditando no canal e nos conteúdos que eu trago pra todes! E quem ainda não conhece ainda o canal eu só digo: CHEGA MAIS QUE A GALERA É IRADA!!

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