Como “Music Story: Losing Control” explora a solidão lésbica e o amor nos dias atuais

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O novo GL da K11D House foi um hit surpresa que trouxe questionamentos importantes para a comunidade sáfica

por Cecília Lopes

“Minha solidão foi o que te trouxe aqui” é a confissão que a protagonista de “Music Story: Losing Control“ faz à acompanhante de luxo por quem tem sentimentos românticos. O GL da K11D House conta a história de Queen, uma herdeira solitária que faz uso dos serviços de duas acompanhantes de luxo, Sea e Bam, sem saber que as duas já foram um casal. 

As duas acompanhantes planejam dar um golpe na cliente para melhorar sua situação financeira, mas a trama se complica quando os  sentimentos entre as três se desenvolvem.

Além da premissa cativante, a série traz uma reflexão muito interessante sobre a solidão lésbica e papel do fanservice nos GLs. Em “Music Story: Losing Control”, o serviço fornecido pelas duas acompanhantes se resume apenas a atividades românticas e não-sexuais, como cozinhar para sua parceira, se maquiar juntas e trocar carinhos. 

A solidão que Queen sente é o motivo dela procurar pelos serviços de Sea e Bam; depois regressa ao descobrir a verdade sobre as mulheres / Foto: Reprodução: “Music Story: Losing Control”

Cada episódio devota bastante tempo a cenas fofas, em que Sea e Bam agem como se fossem esposas de Queen, e o espectador é imerso na mesma fantasia que está sendo vendida para ela. 

Assim como a protagonista, muitas mulheres sáficas têm uma relação íntima com a solidão. O público alvo dos GLs, mulheres lésbicas, é o mais solitário entre os integrantes da comunidade LGBTQA+, de acordo com um estudo da JustLikeUs, e não é à toa que o livro “Minha Experiência Lésbica com a Solidão” ou “ Um Relato Sobre Estar Tão Solitária Que Eu Fui A Um Bordel Lésbico”, em livre tradução, foi um grande sucesso de público.

“Minha Experiência Lésbica com a Solidão” conta, em quadrinhos, a experiência de mulheres sáficas com a solidão / Foto: Reprodução: Instagram/@mangasbrasil

A solidão e alienação social vivida pelas mulheres lésbicas e sáficas é um dos fatores que faz com que a comunidade se apegue tanto às histórias que as representam de uma forma positiva. Os dramas GL retratam relacionamentos lésbicos com toda a magia que Hollywood só poupa para os casais héteros, e desta forma, eles suprem a demanda que existe por fantasias românticas para o público sáfico. O serviço de acompanhante que Sea e Bam oferecem, em si não é tão diferente do “fanservice” que os dramas GLs oferecem ao público.

Fanservice” é definido pelo Merriam-Webster como o material que é incluído em certa obra especificamente com o intuito de agradar o público. Como a própria prostituição, o “fanservice” é muitas vezes visto como algo puramente sexual, e direcionado à uma audiência masculina, mas no contexto dos GLs, que tem como público alvo mulheres sáficas, o termo acaba abrangendo desde cenas que retratam fantasias românticas até cenas de sexo, filmadas sob um olhar feminino.

Dessa forma, em “Music Story: Losing Control”, a narrativa acaba brincando com a metalinguagem, ao transformar as cenas de fanservice em partes de um pacote de serviço literal, que é pago pela protagonista. Essas cenas servem para distrair  tanto o espectador quanto a personagem, da trama de suspense que se desenrola por trás do romance.

Durante a narrativa de “Losing Control”, as ex-namoradas, Sea e Bam, são pegas em um conflito interno ao se questionarem se o golpe que desejam dar em Queen vale a pena após se apaixonarem por ela / Foto: Reprodução: “Music Story: Losing Control”

Sea e Bam tentam enganar Queen, inventando histórias sobre dificuldades financeiras para ganhar mais dinheiro em cima dela, mas ao longo do tempo que seus sentimentos pela sua cliente se desenvolvem, as duas começam a se questionar se a mentira valeu a pena. Por meio deste conflito, a série gera vários questionamentos sobre a relação entre o amor e o fingimento.

A perspectiva de Sea e Bam como profissionais que têm a intimidade como o seu ganha pão, mas ainda são seres humanos que podem se apaixonar tão facilmente quanto qualquer um, é retratada de forma bem multidimensional que respeita as nuances da sua profissão.

No final, “Music Story: Losing Control“ parece concluir que o amor verdadeiro pode sim surgir a partir de uma simulação dele, motivada pelo interesse financeiro, mas na vida real nós sabemos que é um pouco mais complicado. 

Foto em destaque: Divulgação: K11D

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