Crítica - Publicado em 13.jan. 22
Diretor: Paul Verhoeven
Gênero: Drama
Duração: 2h11
Ano: 2021
Sinopse:

Uma freira do século XVII na Itália sofre visões religiosas e eróticas perturbadoras. Ela é assistida por uma companheira e a relação entre as duas mulheres se desenvolve em uma história de amor romântica.


Assista o trailer:

Rotten Tomatoes: 85% | IMDb: 6.7

“Por ser um longa baseado em eventos reais e sua protagonista realmente existiu, com certeza causa desconforto àqueles que praticam a religião católica. Mas também paira no ar uma sensação de ceticismo, pois durante todo o filme, é nos colocado a dúvida se a fé da freira e suas visões eram realmente verdadeiras.”

Por: Raquel Oliveira

Lançado no festival de Cannes em 2021 e tendo percorrido todo o circuito de festivais do ano anterior, por onde passou o filme francês, Benedetta, deixou sua controvérsia. No festival de NY, por exemplo, a exibição foi sob protestos de grupos religiosos, visto que é um filme polêmico já pela sua sinopse que em resumo: Bendenetta (Virginie Efira) é uma freira italiana de um convento na Toscana, Itália, que tem visões de Virgem Maria e sonhos eróticos com Jesus – além de se envolver sexualmente com a jovem Bartolomea (Daphne Patakia). Paul Verhoeven, que também é um diretor polêmico, assina roteiro e direção desse que é sem dúvidas um dos mais polêmicos de 2021.

Benedetta finalmente teve sua estreia oficialmente no Brasil em janeiro de 2022, pela distribuidora Imovision.

Para falar do longa, é preciso saber um pouco sobre o livro que foi baseado o roteiro. Atos Impuros: A Vida De Uma Freira Lésbica Na Itália Da Renascença, de Judith C. Brown, uma história real da freira católica que viveu no século 17. Em sua pesquisa para montar o livro, Judith, encontrou a documentação da história de Benedetta Carlini quase que por acaso, e ao aprofundar mais sua pesquisa, viu que se tratava de o primeiro relacionamento lésbico já registrado pela Igreja. Mesmo com isso, tudo que envolve Benedetta e sua reconstrução histórica, é algo considerado complicado, pois só havia a descrição dos eventos nas mãos de Judith, pouco contexto, e pouco se sabe dos comportamentos da Igreja à época. Então, a história da freira polêmica acaba deixando várias lacunas, e é aqui que entra Paul Verhoeven. O diretor sabe que há muitas lacunas abertas nessa história, logo ele não se intimida com isso.

Por ser um longa baseado em eventos reais e sua protagonista realmente existiu, com certeza causa desconforto àqueles que praticam a religião católica. Mas também paira no ar uma sensação de ceticismo, pois durante todo o filme, é nos colocado a dúvida se a fé da freira e suas visões eram realmente verdadeiras. O longa quando introduz Bartolomea apressa a relação de Benedetta com sua jovem amante, fazendo assim não ser um filme sobre um romance perturbado, apesar de que, de início, a relação entre elas pareça de poder, quem domina quem, sedutora e carnal, e sim cede espaço para ser usado como ferramenta de causar choque atrás de choque, ao mesmo tempo que cada vez que avança, os sonhos eróticos e delírios da freira são mais presentes, mesmo que por algumas vezes Benedetta se mostre ciente de seus atos – ou não.

Mas fora as cenas de sexo, nudez, e principalmente essas que foram feitas para chocar o espectador, Verhoeven cria uma sátira provocativa dando ao espectador o questionamento de quais eram os reais costumes e morais da época, valores que poderiam ser espelhados nos dias de hoje sem problemas, por serem situações contemporâneas. Afinal, por que o pecado da luxúria é uma conduta condenável e o da avareza, cometido até pela própria Madre Superiora, passa despercebido não só pelas freiras do convento como também pela sociedade? Sem contar com a inveja e violência entre as próprias freiras. E por que doenças virais pré-anunciadas ainda são vistas com dúvida pela população, mesmo tendo indícios que elas causam colapso na humanidade?

Verhoeven acaba misturando tudo o que quer contar em seu próprio filme, por mais que esses questionamentos sejam plausíveis. Pois ao introduzir diálogos do roteiro que poderiam aprofundar essa denúncia à hipocrisia de alguns religiosos, deixa passar de maneira superficialmente. Ao mesmo tempo que usa a arte para impor através do nosso olhar preconceituoso (que só), que sonhos e delírios com Jesus – sem genitália – reforçam que nenhuma relação consensual é pecaminosa, associando isso ao apocalipse divino da chegada da peste, seguindo a tendência de chocar ao invés de direcionar sua própria crítica. Mas ao mesmo tempo insinuando que sua protagonista, apesar de tudo, continuava sendo pura – que ser lésbica não é pecado, muito menos ser lésbica foi o motivo de seu afastamento da Igreja.

Em questões técnicas e performances, destaque da atriz protagonista Virginie Efira que compõe sua Benedetta feroz e destemida. As lentes do diretor por vezes polêmica traz uma fotografia muito bem composta que preenche a tela em sua qualidade técnica.

A história que antes vista como real, beira à fantasia em seu final. E o trunfo de Benedetta no fim é usar os artifícios de dúvida, pois acabamos por terminar o filme se perguntando e questionando se tudo o que a freira fez era com intenções para alcançar o que almejava, ou se ela tinha esses “dons” e apenas os seguia conforme lhe era acontecido.





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