A película é dirigida por Flora Dias e Juruna Mallon, é uma coprodução entre Brasil e França, e foi realizada no Aeroporto de Guarulhos e arredores, mostrando o cotidiano da redondeza
Por Vitória Vasconcelos
Escrito e dirigido por Flora Dias e Juruna Mallon, o filme “O Estranho”, que esteve na seleção do Festival de Berlim no ano passado, chegou aos cinemas nacionais nesta quinta-feira, 20. A película é uma produção Lira Cinematográfica e Enquadramento Produções em coprodução com a francesa Pomme Hurlante Films e as brasileiras Filmes de Abril e Ipê Branco Filmes, além de ter a distribuição da Embaúba Filmes.
O principal cenário do longa é o Aeroporto de Guarulhos (SP), local onde a produção foi filmada, juntamente com os arredores. Um símbolo de progresso brasileiro e um monumento do mundo globalizado, mas também um marco poderoso e agressivo dos processos de colonização e ocupação territorial. Embora seja um lugar onde as pessoas transitam o tempo todo, “O Estranho” joga um olhar para aqueles que ficam, cujas vidas se cruzam naquele solo onde trabalham.
Para Flora e Juruna, a gravação do filme no Guarulhos necessitou de muita ida a campo e uma total imersão no território do aeroporto. “Pesquisa, preparação e filmagem nos levaram a perceber sua realidade como algo essencialmente heterogêneo e múltiplo. Quanto mais orientamos nosso olhar e câmera para os espaços e para as rotinas diárias dos trabalhadores do aeroporto, mais essa realidade se tornou rica e surpreendente. Ao lado do aeroporto encontramos bairros urbanos populosos, mas também comunidades rurais, sítios arqueológicos escondidos, e povos indígenas em processo de retomada”.
No filme, acompanhamos também Alê (Larissa Siqueira) e Sílvia (Patrícia Saravy) e o romance das duas sendo colocados em contrapartida com a necessidade de uma permanecer no seu território e a outra de partir. Para Flora, em fala ao Lesbocine, a relação das personagens não tinha em si o foco de serem um casal, para elas, os desafios enfrentados eram outros. “Elas não enfrentam, no filme, ameaças externas lesbofóbicas. Elas vivem o amor e a dificuldade do amor, e vivem outras questões. Não é uma questão pra ninguém que sejam um casal de mulheres cis”, explica.
Foto em destaque: Divulgação: “O Estranho”