Filmes e séries de terror com protagonismo lésbico e bissexual para sua sexta-feira 13

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Por Victoria Tuler

Tradicionalmente, sexta-feira 13 é um dia cercado de superstições e, por isso, oferece o pretexto perfeito para os fãs do cinema de horror ampliarem o repertório ou revisitarem seus títulos preferidos. 

Para a única sexta 13 de 2022, o Lesbocine preparou uma lista de filmes e séries de terror protagonizados por mulheres lésbicas ou bissexuais. Já pode ir preparando a maratona!

The Hunger (1983)

Lançado no Brasil como Fome de Viver, The Hunger é o paraíso das góticas. Com uma estética soturna e atmosfera erótica, o longa é protagonizado por um trio de peso: David Bowie, Catherine Deneuve e Susan Sarandon. A cena de abertura, logo de cara, já é uma experiência frenética com ares de videoclipe. A sequência mescla elementos de todos os movimentos de subcultura que moldam o filme com uma escolha fantástica para a trilha musical — Bela Lugosis Dead, da Bauhaus

Ou seja: tudo de bom para as ex-emos de plantão. 

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The Hunger conta a história de Miriam (Deneuve), uma vampira milenar que, avessa à ideia da solidão eterna, morde e transforma humanos com o intuito de torná-los seus amantes. Seu companheiro atual é John (Bowie), mas várias outras pessoas já ocuparam o posto ao longo dos séculos. 

Sem sangue fresco há algum tempo, John começa a assumir a aparência de um homem idoso muito rapidamente, a despeito da promessa de vida e juventude infindáveis. Desesperado, ele começa a acompanhar o trabalho de Sarah (Sarandon), uma cientista famosa que pesquisa o envelhecimento humano com enfoque na hipótese de que é possível manipular o relógio biológico. Assim que coloca os olhos nela, Miriam sabe exatamente quem será sua próxima parceira. 

Ousado, charmoso e complexo, The Hunger é uma provocação a todas as regras que regem a existência e podam os desejos — sejam elas morais ou metafísicas. Foi um marco estético e narrativo para o gênero, com toda sua energia sexual e o ritmo constante de um sonho vívido. 

Onde assistir: HBO Max.

The Haunting of Hill House (2018)

Hill House integra a antologia The Haunting, de Mike Flanagan (Doutor Sono e Hush: A Morte Ouve). A série de histórias sobre casas assombradas também comporta a aclamada Bly Manor, responsável por anos de sessões de terapia e um carregamento de traumas incuráveis para toda a comunidade LGBTQ+ e adjacências. 

A boa notícia sobre The Haunting of Hill House é que você não vai se entristecer com o desfecho das lésbicas da trama. 

A má notícia, naturalmente, é que o que não falta é motivo para ficar triste por outros personagens. 

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A adaptação do livro de Shirley Jackson conta a história de cinco irmãos: Steven (Michael Hulsman), Shirley (Elizabeth Reaser), Theodora (Kate Siegel) — a lésbica da história —  e os gêmeos Nell (Victoria Pedretti) e Luke (Oliver Jackson-Cohen). O quinteto carrega um trauma de infância compartilhado: a morte da mãe, Olivia Crain (Carla Gugino), que perdeu a sanidade depois de um verão nebuloso na Residência Hill, casarão misterioso que a família havia comprado para reformar. 

Já adultos, todos tentam seguir suas respectivas vidas suprimindo a dor de não entenderem o que aconteceu com Olivia, mesmo que a relutância em confrontar o passado evidentemente alimente um rastro devastador na saúde emocional de cada um deles. 

Tudo muda quando uma nova tragédia se abate sobre a família e a Residência Hill parece ser a chave para que os irmãos Crain não percam mais ninguém. 

Mais do que uma boa série de terror com direito a sustos, espíritos e mistérios instigantes, Hill House é um dos comentários sobre luto mais bonitos que a televisão estadunidense produziu nos últimos anos. Há uma poética sensível e visceral que cerca a abordagem sobre memória e tempo — assunto que, inclusive, é incorporado à narrativa com uma explicação belíssima e inesquecível que empresta elementos da filosofia e da Teoria da Relatividade. 

Além da competência em todos os outros aspectos de sua execução, Hill House também diverte com plot twists de tirar o fôlego e sequências engraçadíssimas. A cena em que Shirley descobre que Theodora se relaciona com mulheres é de sorrir até as bochechas doerem. 

Há ainda uma outra brincadeira genial feita pela equipe de produção. Ao longo da série, dezenas de fantasmas estão escondidos ao fundo de várias cenas. Vale se entreter encontrando os espíritos em cada canto do cenário ou levando aquele susto ao ser encontrado por eles.

Onde assistir: Netflix

Brand New Cherry Flavor (2021) 

Minissérie original Netflix que teve um lançamento discreto, sem muito alarde ou divulgação, Brand New Cherry Flavor é feita sob medida para quem gosta de surrealismo e terror gore — aquele com sangue, vísceras e brutalidade. Mas acima de qualquer coisa, a obra é uma história sobre o horror de ser uma mulher tentando fazer carreira em Hollywood.

Reprodução: Netflix

Na década de 90, a protagonista, Lisa (Rosa Salazar) é uma jovem promessa da direção cinematográfica. Recém-formada, ela faz sucesso ao dirigir um curta-metragem de terror chamado “Lucy’s Eye” e vai para Los Angeles com o intuito de fechar um contrato para seu primeiro longa. Chegando lá, no entanto, ela é enganada pelo renomado produtor Lou Burke (Eric Lange, conhecido como o professor Sikowitz, de Victorious), um assediador sistemático com comportamento predatório. 

Furiosa e magoada por ter perdido o projeto de sua vida, Lisa faz um acordo macabro para se vingar de Lou. Contudo, quando a raiva passar, não vai ser tão fácil assim se livrar das consequências do pacto. 

É importante avisar que Brand New Cherry Flavor não é para todos os gostos. Repleta de bizarrices, rituais, magia e alguns dos elementos eróticos mais estranhos que você vai ver na sua vida, a série tem um humor ácido e parte de uma abordagem dura sobre a cultura do assédio na indústria cinematográfica e tudo que um artista está disposto a sacrificar em nome do sucesso. Quem já é entusiasta das estranhezas maravilhosas do terror (e não se importa com uma violência gráfica digna de franquias como Evil Dead e O Massacre da Serra Elétrica) tende a ter uma boa experiência. 

Lisa é uma personagem repleta de complexidades, contradições, segredos e, bom, abertamente bissexual. A sexualidade da protagonista é revelada em um diálogo particularmente espirituoso e divertido. Conforme a história se desenrola, um antigo relacionamento amoroso de Lisa com uma mulher ganha uma importância surpreendente para o conflito principal e desfecho da narrativa.

Uma curiosidade peculiar é que a série é recheada de referências ao Brasil — a maior parte imensamente constrangedora, embora haja um contexto para elas. 

Onde assistir: Netflix

As Boas Maneiras (2017) 

Representante do Brasil nesta lista, As Boas Maneiras tende, em muitos aspectos, mais para um flerte com o realismo fantástico do que para uma história de terror. Dirigido por Juliana Rojas e Marco Dutra, o filme consegue condensar a energia de um thriller tenso e erótico em um desenrolar com tom de aventura. A habilidade de transição por vários gêneros enriquece a narrativa e acrescenta complexidade à experiência do espectador, como é do feitio de outros trabalhos dos diretores.

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As Boas Maneiras acompanha Clara (Isabél Zuaa), contratada para trabalhar na casa de Ana (Marjorie Estiano). A patroa é uma mulher misteriosa. Grávida, ela foi excluída por todo seu círculo social, incluindo família e amigos, por seu recém-adquirido status de mãe solo. A funcionária, então, acaba se consolidando como a única pessoa disposta a amá-la. No entanto, há um pequeno problema: os eventos que acontecem na residência durante as noites de lua cheia.

A obra imprime referências de peso, como o clima constante de mistério de Alfred Hitchcock e uma certa reverência inevitável a títulos como O Bebê de Rosemary e A Mão que Balança o Berço. Ao mesmo tempo, também resgata algumas temáticas já trabalhadas por Rojas e Dutra, como o horror da moralidade e das estruturas sociais já abordado em Trabalhar Cansa (2011).

As Boas Maneiras não é uma execução perfeita, e nem ambiciona ser. Os efeitos especiais muitas vezes geram um certo desconforto e a sensação de que se trata de dois filmes em um pode não agradar a todas. Mesmo assim, é um recorte charmoso de uma lenda que faz parte do imaginário brasileiro e que encanta com suas mensagens sobre amor e aceitação.

Onde assistir: Netflix

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