O espetáculo teatral é parte da “Mostra das Ditas: Corpo-Repertório-Cotidiano e Resgate” e fala da importância da ancestralidade feminina negra na periferia da zona leste de São Paulo
Por Vitória Vasconcelos
O espetáculo teatral, “Canto das Ditas”, celebra a história e a força das mulheres que viveram e vivem na Cidade de Tiradentes. Fazendo parte da agenda “Mostra das Ditas: Corpo-Repertório-Cotidiano e Resgate” e oferecendo reflexões que falam sobre a ancestralidade na periferia da zona leste de São Paulo, a peça também celebra os 17 anos de existência e resistência do grupo Filhas da Dita neste sábado, 22, no CEU Inácio Monteiro.
Com a direção e a dramaturgia de Antonia Mattos, juntamente com uma parceria com a Secretaria de Cultura de São Paulo, e concebido e realizado por mulheres e para mulheres, “Canto das Ditas” celebra as mulheres negras que foram essenciais para a história e a formação do bairro.
Para a atriz Luara Iracema, é importante que haja esse apoderamento da própria história, para que se evite que venham pessoas de fora e contem de maneira errônea. ”Deixa, então, com a gente que nasceu e cresceu aqui – do extremo da zona leste, produzindo vários saberes”, comenta.
O projeto em si traz a proposta de mergulhar nas histórias e vivências. Evocando as ancestralidades sagradas e celebrando o poder feminino, por meio de gestos, música, canto e narrativas, traz à tona milênios de existência, cruzando a força ancestral de Orixás femininas com a construção histórica de Cidade Tiradentes por mulheres negras.
No espetáculo, a música desempenha um papel fundamental na encenação, representando a voz e o canto dessas mulheres em um cenário que mescla o ritualístico e o urbano contemporâneo. Também há uma celebração do passado, que busca fortalecer o presente e, ainda, vislumbrar o futuro.
Para as integrantes do grupo “Filhas da Dita”, responsáveis pela produção da peça teatral, ocupar os palcos dos equipamentos públicos de Cidade Tiradentes é uma importante maneira de reivindicar o acesso à cultura e às artes para a população local. “Esse projeto é sobre resgate, autoestima e empoderamento de nós mesmas e da nossa trajetória. Para gente que não é normal, é difícil se sentir bonita, inteligente e cheia de babado para compartilhar. São 17 anos de gente preta, travesti, indigena e LGBT que insiste em fazer cultura na e para a quebrada”, compartilha a atriz Lua Lucas.
A apresentação abre os caminhos da “Mostra das Ditas”, que abrange um conjunto de eventos para o compartilhamento do trabalho e da pesquisa do Coletivo Filhas da Dita, por meio de exibição de repertório, trocas e práticas em diálogo com o território do projeto, trazendo figuras importantíssimas como a Dra. Leda Maria Martins, Salloma Salomão e Hilton Cobra.
Entre os objetivos está a contribuição para a garantia do direito à cultura para pessoas moradoras de Cidade Tiradentes – que completa 40 anos de existência em 2024. O projeto é realizado com apoio da 8ª edição do Fomento à Periferia. “A Lei de Fomento às Periferias é fruto de uma mobilização popular organizada para democratizar o acesso, o recurso e fazer o dinheiro de fato chegar nas pontas, nas bordas, chegar nas mãos de quem produz a cultura periférica da Cidade de São Paulo”.
Serviço:
“Canto das Ditas – Fragmentos Afrografados de Cidade Tiradentes”
Data: 22 de Junho de 2024
Horário: 19 horas
Local: CEU Inácio Monteiro, Rua Barão Barroso do Amazonas, s/n – Conj. Hab. Inácio Monteiro, São Paulo – SP
Entrada gratuita
Foto em destaque: Areta Padma