“Pink Kryptonite” tem recepção calorosa dos fãs e anima o fandom de Supercorp

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Originalmente criada para ser uma fanfic que deu uma nova aventura para o casal Supergirl e Lena Luthor, a produção passa a ser desenvolvida como história em quadrinhos

Por Vitória Vasconcelos

Na busca de trazer mais conteúdo para os fãs do shipp Supercorp (Supergirl e Lena Luthor), a escritora brasileira Sarah Amorim e a ilustradora mexicana Ana Patricia Ramos lançaram o primeiro volume da HQ em conjunto, “Pink Kryptonite”. A obra terá a primeira edição disponível para apoio no website Kickstarter até quarta-feira, 6.

Apesar de Supercorp não ter sido canonizado na série Supergirl da CW, ele se mantém com um dos shipps sáficos mais conhecidos internacionalmente e é repleto por mídias, fanarts, fanfics, manips e edits, produzidas por fãs. A história em quadrinho de “Pink Kryptonite” é uma produção de fãs para fãs, algo repleto de carinho e que busca dar um novo rumo para Kara Danvers/Supergirl e Lena Luthor.

Para Sarah, um dos principais motivos de transformar esse projeto pessoal em algo público, foi o descaso que a emissora teve com o casal e como sempre que algo relacionado a ele era citado, acontecia nas entrelinhas ou com o uso de queerbait. “Eu sabia que a gente merecia bem mais do que aquele final mequetrefe”.

A escritora ainda complementa que “essa HQ e o sucesso dela só mostra o quão na seca nossa comunidade é, principalmente do fandom Supercorp. Como estamos quando o assunto é a mídia sáfica”.

As interações e a relação de Kara Danvers/Supergirl (Melissa Benoist) e Lena Luthor (Katie McGrath) foi uma âncoras que manteve os fãs ligados à série “Supergirl” / Foto: Reprodução: “Supergirl” / CW

Ana Patricia também acredita que a HQ foi uma forma de dar um novo começo ou um melhor fechamento para o casal após o fim de Supergirl. “Tiveram tantas coisas que poderiam ter sido exploradas, mas não tivemos a chance de ver. A história foi uma oportunidade de explorar [a relação delas] com outras equipes [de heroínas] conhecidas”, explica a ilustradora.

A fã de Supercorp e estudante de cinema e audiovisual, Laura Bandeira, 22, acredita que a HQ é uma chance de ter um vislumbre do que o casal poderia ter sido. “Vai muito além da ficção, mostra o poder (e o talento) dos fãs ao produzirem fanarts, fanfics e muitos outros conteúdos que impulsionam a luta por mais representatividade na mídia. A HQ ser da autoria de uma escritora brasileira é parte disso, estamos conquistando cada vez mais o nosso espaço”, celebra.

A futura pedagoga, Ritha de Lima, 27, está animada com o fato de ver um casal tão querido para ela tendo sua história representada neste formato. Para a mulher, essa mídia permite que os fãs mergulhem mais nas nuances do relacionamento delas e no desenvolvimento do casal. “Poderíamos acompanhar suas jornadas individuais, suas conexões emocionais e o crescimento contínuo do amor que sentem uma pela outra. Isso proporciona aos fãs da série e dos quadrinhos uma oportunidade adicional de se conectarem e se identificarem com esses personagens inesquecíveis”, relata.

O enredo e a escrita

A história de “Pink Kryptonite” não é algo recente. O enredo para o quadrinho surgiu em 2019 em formato de fanfic. Na época Sarah estava consumindo muitas HQs da DC (“Batgirl”, “Aves de Rapina” e “Supergirl”), além da série da Garota de Aço produzida pela CW. Foi da junção dessas mídias que o plot da história em quadrinhos veio pela primeira vez para a realidade.

Dentre as leituras, um arco de “Aves de Rapina” chamou a atenção da escritora. Nele as super-heroínas tinham de combater uma intoxicação que afetava apenas os homens e lutavam junto a Batwoman e as Sereias de Gotham para salvar a cidade em meio à uma quarentena.

Lena e Kara terão de enfrentar os acontecimentos em Gotham ao lado das Aves de Rapina (Caçadora, Batgirl e Canário Negro) e das Sereias de Gotham (Arlequina, Hera Venenosa e Mulher-Gato) / Imagem: Reprodução: DC Comics

A possibilidade de juntar as heroínas e anti-heroínas de Gotham com as de National City se tornou uma vontade cada vez mais real. “O que eu sabia de início do que queria para história era basicamente: ‘quero levar minhas personagens para Gotham, no caso a Lena e a Kara, e quero explorar as personagens que nunca escrevi sobre’”, contou a escritora.

Sarah também relatou que o enredo seria inicialmente pensado para apenas um capítulo, mas que com o desenvolver dos acontecimentos, a fanfic terminou com cinco. “Apesar do enredo ‘redondinho’, ele não foi definido logo de cara. Para quem estava lá na época me acompanhando, eu cheguei a anunciar que iria escrever uma história curta e que queria que fosse de um capítulo, mas ela acabou sendo de cinco. Eu fui sentindo o rumo que eu ia dar, sabia o geral e tinha um esqueleto”, explicou um pouco do processo de escrita.

Da fanfic para a HQ

Em meio ao “boom” receptivo de “Pink Kryptonite”, muitos leitores comentavam que adorariam ver a fanfic em mídia física ou em formato de história em quadrinho, para acompanhar melhor as personagens. “Acho que são tantas personagens que estamos acostumados a ver só em quadrinhos, que a galera trouxe isso com eles, e obviamente o pessoal do fandom de Supercorp é fã de super-heróis e já leu histórias em quadrinhos”, explica Sarah.

Entretanto, na época a escritora já estava com a produção de um livro de outra história sua sobre o casal, a fic “What to Expect (When You’re Expecting)”, além de ter se mudado de país. Apesar de ter que focar em outros assuntos e ter mudança de rotina, a ideia da adaptação para história em quadrinho não saiu de sua mente.

Para transformar o enredo da fanfic para uma HQ, algumas mudanças nos acontecimentos da versão original da mídia tiveram de ser feitas / Imagem: Reprodução: “Pink Kryptonite” / Ana Patricia Ramos

Em meados de 2021, “Pink Kryptonite” voltou a ser pensada como uma história em quadrinhos, mas foi apenas em agosto do ano seguinte que o projeto saiu do papel. Com o incentivo dos amigos e dos fãs da fic, da série e do casal, além do apoio financeiro de uma amiga, Bianca Melo, o projeto poderia avançar verdadeiramente.

“Eu lembro que ela falou: ‘Sarah, se você precisa de alguém para patrocinar esse seu projeto, eu posso patrocinar’. Simples. Literalmente. E eu fiquei muito surpresa quando ela ofereceu, porque é um projeto caro. E falei para ela: ‘olha, vai ser um projeto que não vai sair do papel de um dia para o outro. Até porque é uma fanfic que mesmo tendo apenas cinco capítulos, são extensos, de mais de 10 mil palavras ou quase 10 mil palavras. Então a gente precisa decidir como vai passar isso para o roteiro e tudo mais’. Eu precisava que ela tivesse certeza do que ela estava fazendo”, relembrou a conversa que teve com a amiga.

El Mayarah – Mais fortes juntos

Com a ajuda de Bianca, Sarah pode dar continuidade ao projeto voltado para os quadrinhos. O que fazia necessário encontrar pessoas que concordassem em participar e pudessem fazer a adaptação da fanfic para um roteiro de quadrinho e também para desenharem as artes da HQ.

O primeiro a ser encontrado para o avanço da história em quadrinho, foi o roteirista Rodrigo Garrit. Garrit trabalha com roteirização e escrita de suas próprias HQ e ao conversar com Sarah sobre o projeto pessoal da “Pink Kryptonite”, topou na mesma hora em participar. “Falei para ele: ‘poxa, preciso de alguém que me ajude a passar isso para um roteiro’ e ele: ‘Sarah, eu topo!’. Então a gente começou a trabalhar juntos nisso”, relatou.

Após encontrar o roteirista, o próximo passo seria encontrar alguém que pudesse fazer as artes para os quadrinhos. Originalmente a produção era para ser 100% brasileira e ter a escrita em português, mas alguns contratempos acabaram levando o projeto para um novo rumo de desenhista e uma parceria que daria mais que certo.

Os traços nas artes de Ana Patricia Ramos chamaram a atenção de Sarah Amorim e a escritora soube que os queria em sua HQ / Imagem: Reprodução: “Pink Kryptonite” / Ana Patricia Ramos

Contatada por email, a artista mexicana Ana Patricia Ramos, foi convidada para conhecer mais sobre a fanfic e participar do projeto de transformá-la em uma HQ. Por não falar português, Ana não conhecia as produções Supercorp no idioma, mas quando Sarah a enviou “Pink Kryptonite”, a artista ficou completamente encantada pela obra. “Me mandou um email contado sobre sua ideia de transformar em história em quadrinhos. Ela seguia meu Twitter e falou que queria meu estilo de desenho na HQ. Me senti extremamente surpresa e honrada!”, lembrou a ilustradora.

As ilustrações

Agindo como um verdadeiro “supertime”, Sarah e Ana sempre buscaram alinhar suas ideias para a ilustração de “Pink Kryptonite” de acordo com o roteiro que recebiam de Garrit. Apesar de que quando a fic foi criada, Sarah ter dado aos leitores noções de quem seriam os “rostos” das personagens, a escritora deu à Ana a total liberdade de interpretar como ela via as heroínas e as anti-heroínas de Gotham e National City.

Ana conta que mesmo já tendo uma noção da aparência das personagens graças às séries e as HQs das DC, ela desejava também dar seu toque especial no visual delas. “Sarah me deu total liberdade criativa sobre elas e também conversamos sobre como visualizamos as personagens. Tiveram algumas que as referências já estavam óbvias  (como as aparências da Katie e da Melissa), mas outras foram mais pela minha visão ou headcannons. Então entre o design final da HQ e minhas fancasts para os personagens, muitos rascunhos foram feitos até que estivéssemos satisfeitas”.

Ana Patricia deu seu toque especial para as ilustrações, assim como fez com que na mesma hora que os leitores vissem as personagens, soubessem exatamente quem são / Imagem: Reprodução: “Pink Kryptonite” / Ana Patricia Ramos

Embora já tivesse seu estilo de traço desenvolvido há anos e adorá-lo, a ilustradora também quis dar referências o suficiente para que os leitores fossem capazes de reconhecer na mesma hora os personagens. Ana precisou estudar mais sobre a vibe de Gotham e o visual dos moradores da cidade, para que as pessoas pudessem reconhecer a “energia da DC” nas ilustrações. “Eu me inspirei nas HQs da “Liga da Justiça” e do “Batman” no estilo do Jorge Jimenez. Até porque senti que o estilo e o tom dele encaixa na HQ”, explica.

Jorge Jimenez é o quadrinista responsável por obras como “Batman” e “Liga da Justiça”, além do design e criação da Gancho (parceira do Coringa que substitui a Arlequina) / Imagem: Divulgação: DC Comics / Jorge Jimenez

Kickstarter e o futuro

Por ser um projeto pessoal e não ser possível a sua venda ou obtenção de lucro nele (uma vez que as personagens da HQ pertencem à DC Comics e estão protegidas por propriedade intelectual), Sarah e Ana tiveram de pensar em outra forma de compartilhar o que estavam fazendo com as pessoas que desejavam ter acesso.

O jeito que as duas encontraram para a distribuição da obra foi por meio do website Kickstarter, lá as pessoas poderiam dar uma gorjeta na produção do projeto e recebê-lo como recompensa caso a meta estipulada fosse cumprida. “Eu e a Ana conversamos e ela falou: ‘Sarah, existem várias plataformas em que você consegue fazer com que as pessoas, já que elas querem ter acesso a isso [HQ], paguem uma gorjeta em cima’. Aí eu falei para ela que era muito interessante e foi quando decidimos usar o Kickstarter”, compartilhou a escritora.

Mesmo com receio de que o projeto não obtivesse o valor estipulado de arrecadação, as duas mulheres o postaram. Entretanto, diferente do que as duas pensaram em um cenário mais positivo de que a meta seria cumprida em até um mês, o valor foi arrecadado poucas horas após elas anunciarem nas redes sociais.

Ana expressou gratidão por um fandom tão unido e dedicado. E comentou que não esperava que “Pink Kryptonite” fosse tão popular, ficando completamente impressionada e chocada em como tudo aconteceu tão rápido com o apoio de todos. “A gente não esperou que bateria a meta em duas horas! Eu me recordo de checar durante a noite e descobrir. Mandei uma mensagem para a Sarah, e inclusive já passava da meia noite para ela, que está na Irlanda e eu no México. Ficamos tão felizes e gratas ao fandom”, celebrou a desenhista.

No Kickstarter, os fãs podem apoiar a produção da HQ por meio dos pacotes disponibilizados / Imagem: Reprodução: Kickstarter

Assim como sua parceira de projeto, Sarah também ficou surpresa e feliz com a rapidez com que as pessoas apoiaram a sua história no Kickstarter. “Quando a gente viu que batemos a meta em horas, eu só sabia chorar, sabe? Fiquei muito impressionada e serviu para mostrar que a comunidade está em extrema necessidade de representatividade em qualquer forma e em qualquer mídia”, lembrou a emoção que sentiu.

Para o futuro da história de Supercorp, as mulheres estão na organização das próximas campanhas para os outros oito volumes restantes de “Pink Kryptonite”. Já para além da história em quadrinhos que estão produzindo, Sarah pretende concluir seu primeiro drama original e publicá-lo futuramente, e Ana continuará na criação de arte para HQs, de modo a fazer uma carreira dentro do ramo. 

Enredo de “Pink Kryptonite”

Certamente que Lena tinha escolhido um péssimo momento para ir viajar. Mas o que ultimamente não estava uma catástrofe na sua vida? Sua amizade com a Supergirl tinha ido ralo abaixo, levando também Kara Danvers, a repórter, e seu namoro não era exatamente o tipo de relacionamento que queria.

Por isso, quando a oportunidade de ir para Gotham, atender à uma conferência de ciência oferecida pela Wayne Enterprises, a Luthor não pensou duas vezes. Porém a verdade era que ela deveria ter pensado muito bem antes de aceitar passar três dias na cidade onde os heróis são apenas lunáticos em fantasias.

Serviço:

Apoio ao primeiro volume de “Pink Kryptonite”

Onde: https://www.kickstarter.com/projects/pinkkryptonite/pink-kryptonite-a-supercorp-fan-comic-book<

Até quando: Quarta-feira, 6, meia-noite no horário da Irlanda

 

Imagem em destaque: Divulgação: “Pink Kryptonite” / Ana Patricia Ramos

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