A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas

Crítica Entretenimento Filmes

Rotten Tomatoes: 97% | IMDb: 7.7

“É importante saber que a visão de Katie Mitchell recebe destaque no filme – afinal, ela é a primeira protagonista abertamente queer em uma animação destinada a todos os públicos. E, em uma trama que deixa claro desde o início que ela sempre se sentiu diferente e excluída, é um alívio ver que a sexualidade não é um ponto de conflito com a família nem com o mundo. É apenas um fato que se soma a várias outras características que fazem da Katie uma personagem real, de muitas dimensões.”

Por: Nicole Camperoni

 

Katie Mitchell sempre soube que era diferente. Não só por causa das suas ideias mirabolantes para filmes, mas no geral, ela nunca sentiu que se encaixava entre as pessoas, especialmente entre a sua família. Mas a solução para esse problema parece fácil: ela consegue entrar em uma faculdade de cinema do outro lado do país, onde pode ficar perto de pessoas com quem ela se identifica e longe de seu pai, com quem sempre está em conflito.

Em um último esforço para se aproximarem de Katie, seus pais, irmão e cachorro decidem ajudá-la com a ida até a faculdade, em uma viagem de carro em família – eles só não contavam com o fato de que uma revolução das máquinas ia atrapalhar os planos. De repente, os Mitchells se tornam os únicos capazes de salvar o mundo, e vão precisar superar suas diferenças para lutarem contra celulares, aparelhos domésticos e até brinquedos ameaçadores.

A fórmula do longa é aquela de todos os filmes estilo coming-of-age: a filha mais velha, que não se dá bem com os pais, passa por situações que só uma família unida será capaz de resolver, e eventualmente descobre a força do amor. O fato de ser um filme que parece criticar o uso da tecnologia também pode o tornar inicialmente desinteressante e ultrapassado. Porém, Rianda e Rowe souberam usar a quantidade certeira de clichês e reverteram muitos dos estereótipos desse tipo de enredo, criando um filme surpreendente e bem feito, que prende a atenção do começo ao fim.

O estilo de animação também valoriza a história, dando a cada personagem uma característica especial. Assim como Homem-Aranha no Aranhaverso. seu irmão mais velho do mesmo estúdio, Os Mitchells e a Revolta das Máquinas traz um traço cartunizado, com textura de desenho e cores fortes. Além disso, a equipe responsável também inseriu vários pequenos detalhes e rabiscos iguais aos que vemos Katie desenhar ao longo do filme, o que adiciona um nível de autenticidade não só para a animação mas também para a protagonista: fica claro que os fatos são narrados sob o ponto de vista dela, com sua percepção de mundo. 

E é importante saber que a visão de Katie Mitchell recebe destaque no filme – afinal, ela é a primeira protagonista abertamente queer em uma animação destinada a todos os públicos. E, em uma trama que deixa claro desde o início que ela sempre se sentiu diferente e excluída, é um alívio ver que a sexualidade não é um ponto de conflito com a família nem com o mundo. É apenas um fato que se soma a várias outras características que fazem da Katie uma personagem real, de muitas dimensões.

No entanto, é preciso reconhecer que o tópico da sexualidade não fica claro até uma breve conversa no final do filme; o que não é um problema, mas é uma evidência do longo caminho que ainda temos a percorrer para contar histórias de pessoas LGBTQIA+ em todos os meios, para todos os públicos. Por isso, também é importante saber que foi um desafio seguir com a ideia de uma protagonista queer nos passos iniciais do longa. A equipe de Os Mitchells e a Revolta das Máquinas, com sua determinação em fazer isso acontecer, sem dúvida abriu portas para as animações do futuro.

Com seu estilo único, história divertida e personagens cativantes, Os Mitchells está sendo um sucesso na temporada de premiações. Já levou vários prêmios para casa, e foi indicado como Melhor Animação em eventos renomados como o GLAAD Awards e o People’s Choice Awards. Ele chega como um forte concorrente para o Oscar de 2022, e representa a história de milhares de pessoas que, assim como Katie, são excluídas e esquisitas, mas amadas por serem quem são.

 

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