Casal de mulheres é vítima de lesbofobia em supermercado em Belo Horizonte

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Durante o mês do orgulho LGBTQIAPN+, Gabriela Lopes e Gabriela Borges foram alvo de xingamentos lesfóbicos em um mercado da rede BH. O caso escancara como a homofobia ainda é disseminada no cotidiano, inclusive em espaços familiares

Por Vitória Vasconcelos

O que era para ser um momento cotidiano na vida de um casal e seu filho, se tornou alvo de violência homofóbica em Belo Horizonte, no domingo, 8. O casal, formado por Gabriela Lopes e Gabriela Borges, estava na fila de um supermercado da rede BH, no bairro Nova Suíssa, na região Oeste de município de Minas Gerais, quando os insultos começaram.

As duas mulheres estavam em um momento especial do dia a dia com seu filho, passando as comprar no caixa, quando outro casal, formado por Paulo Henrique Marino Cordeiro, que já esteve envolvido em cinco registros policiais, e Graciana Alves da Silva, passou a se incomodar e a proferir comentários indiretos às mulheres e ao menino.

De começo, o casal tentou evitar falar algo ou dar atenção a essa violência ao notarem que Graciana estava empurrando o seu carrinho com o pé, inclusive, a caixa que estava passando as compras comentou que em pleno 2025, era absurdo aquele tipo de preconceito ainda existir. Mas, então, os atos de homofobia escalaram e o homem passou a ofender as vítimas com insultos e tom de voz alterado.

Em uma gravação feita pela própria Gabriela Lopes, é possível ver o momento em que xingamentos são proferidos. “Sapatão, filha da p*, é isso que você é. Sapatão não gosta de ‘pagar de’ homem? Mas nessas horas, não é homem, né?”, insultou Cordeiro.

Medidas tomadas

Temendo pela segurança de sua família, Gabriela começou a gravar o ocorrido para que pudesse ser anexado como prova e depois acionou a Polícia Militar (PM) para que Cordeiro fosse conduzido, entretanto, mesmo com provas de vídeo e o homem ainda proclamando xingamentos e ameaças na presença da polícia, nenhuma prisão foi efetuada no momento. “Eu peguei e mostrei o vídeo pra polícia e falei assim ‘olha o vídeo está aqui’. Está aqui está explícito”, contou em entrevista ao Lesbocine.

Entretanto, o homem não chegou a ser levado para a delegacia e o Boletim de Ocorrência (BO) foi feito no próprio local e não em uma DP, após um dos agentes da PM ter falado que seria a mesma coisa. E, depois de conversar com uma advogada conhecida, descobriu que era para ter realizado o BO na delegacia e que o homem deveria ter sido preso em flagrante por crime de ódio.

Essa falta de resolução do caso de lesbofobia sofrido pelo casal, chamou atenção nas mídias sociais e chegou até a Deputada Federal Erika Hilton (PSOL – SP). Erika Hilton juntamente com a Deputada Estadual Bella Gonçalves (PSOL – MG), denunciaram Paulo Henrique Marino Cordeiro ao Ministério Público (MP) e também os policiais que permitiram que o casal saísse livre deste flagrante à Corregedoria da PM de Minas Gerais.

A Deputada Federal Erika Hilton enviou as denúncias para o Ministério Público e para à Corregedoria da PM de Minas Gerais / Imagem: Montagem: Reprodução: Perfil da Deputada Federal Erika Hilton no X (antigo Twitter)

“Novamente, lembro: a homotransfobia, termo usado pelo STF que abarca a lesbofobia, é crime no Brasil. Um crime equiparado ao crime de racismo, imprescritível e inafiançável. E jamais aceitaremos que ela continue nos perseguindo, ou agentes da segurança pública ignorem a confissão de um crime de ódio em flagrante, cometido em frente ao filho de duas mulheres, e deixem os agressores irem embora. Por fim, viva as mulheres que amam as mulheres!”, postou a Deputada Federal Erika Hilton em sua conta do X (antigo Twitter).

E nesta quinta-feira, 12, o casal seguiu até a delegacia e realizou um novo depoimento e Boletim de Ocorrência para que o inquérito ficasse registrado e pudesse ser encaminhado ao Ministério Público, dando sequência à denúncia, além de pedir uma medida cautelar contra o acusado também. “[Vamos] torcer para que o Ministério Público não solicite que o criminoso dê depoimento antes, mas caso solicite que ele precise depor, só vai acontecer no dia 25 de junho. O que a gente pode fazer é informar à mídia para que pressione o Ministério Público para que ele haja com mais pressa nesse processo”, compartilhou Gabriela.

Gabriela Lopes e Gabriela Borges seguem na busca por justiça pelo ato de lesbofobia que a família delas vivenciou em pleno mês do Orgulho LGBTQIAPN+ e mostrando que esse crime não pode ser apenas mais um e deve ser punido perante a lei. O casal também participará de uma Assembleia nesta semana juntamente com a equipe da Deputada Estadual Bella Gonçalves, onde a Deputada Federal Erika Hilton está trabalhando em conjunto para o caso.

Homotransfobia, desde 2019, se equipara ao racismo, sendo um crime imprescritível e inafiançável / Foto: Reprodução: Pyrosky/Getty Images

Lei de combate à Homofobia

Em 2019, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que atos voltados à discriminação por orientação sexual e identidade de gênero se enquadriam na Lei 7.716/1989, sendo equiparados ao racismo. Assim, essa decisão tornou a homotransfobia, novo termo dado pelo STF e que engloba a lesbofobia, um crime imprescritível e inafiançável, ou seja, não há prazo para que o julgamento possa ser extinguido e a pessoa acusada não pode ser solta mediante ao pagamento da fiança.

Com essa medida, pessoas da comunidade passam a ter um maior respaldo e proteção do Supremo e do poder público contra esse tipo de discriminação e violência. Além de que a equiparação da homotransfobia ao racismo, ajuda na conscientização da sociedade sobre tamanha gravidade da discriminação baseada em orientação sexual e identidade de gênero e na criação de políticas públicas que possam combater este crime e garantir melhores direitos para a população LGBTQIAPN+.

Serviço

Denunciar um caso de homotransfobia

Como: Disque 100 para denunciar crimes que ferem os Direitos Humanos ou realize Boletins de Ocorrência (BOs) em delegacias virtuais ou especializadas

Imagem em destaque: Edição: Reprodução: Acervo Pessoal

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