Em 1947, Mildred Ratched começa a trabalhar como enfermeira em um hospital psiquiátrico. Entretanto, por trás da aparência impecável, cresce uma alma sombria.
Eu acho que nunca vi tanto tom de verde explorado em uma produção. Não só a paleta, mas toda a composição de cenários e looks. A paleta de Ratched é contrastada com muitas cores fortes e coloridas em verde especificamente, mas eu honestamente e pessoalmente enjoei demais da atenção ao verde!
Enfim, a série é vista como prelúdio do clássico Um Estranho no Ninho. Foi criada, produzida e dirigida por Ryan Muprhy, e Ratched é ambientada na década de 40 inspirada na personagem enfermeira Mildred Ratched. Estrelada por Sarah Paulson que também está na produção executiva, Ratched chega a um hospital psiquiátrico com uma missão pessoal. Ela não tem escrúpulos e é egoísta, capaz de tamanhas atrocidades, absurdos e extremismos para conseguir o que quer e o que é favorável para si.
Essa descrição é o que é nos apresentado nos três primeiros episódios, mas algo se perde. Em algum ponto, ainda no início, Ratched deixou de ser uma série de suspense para um melodrama confuso e passional. Toda a áurea que foi introduzida inicialmente, cede espaço para mostrar camadas da protagonista que até então parecia imbatível. E isso não acontece só com ela, outros personagens protagonistas passam por isso. Mas apesar de ser história de origem do filme, ela tem sua independência e distanciamento a ponto de não precisar assistir o filme para poder ver a série. Indo aos pontos positivos, há uma passagem sobre o procedimento de intervenção cirúrgica lobotomia.
Na época, a homossexualidade era vista como doença, e é mostrado explicitamente alguns tratamentos que eram feitos, e isso nos traz um choque, mas ao mesmo tempo acaba se conectando ao arco da antagonista.
O melhor de Ratched é o romance da enfermeira com Gwendolyn (Cynthia Nixon), a assessora de imprensa do governador. Inicialmente a Mildred reluta à paixão inesperada, mas acaba cedendo quando Gwendolyn começa a entrar mais na sua vida e mostrar um mundo diferente do que a enfermeira conhece, sua postura e perspectivas passam a mudar. Eu definitivamente não esperava que Ratched no fim das contas se trataria de uma série sobre descobertas, aceitações e rendições da enfermeira.
Talvez o que mais me incomodou na obra tenha sido a forma como as histórias demoraram para se encontrar no arco principal, isso faz com que tenha rodeios cansativos. O tempo era curto, a leva de episódios pequenos, talvez tenha sido isso? Ou não. Sarah é talentosa e está em um grande trabalho técnico, mas os secundários é que brilham, ainda que alguns arcos sejam bem chatos.
O destaque vai para Sophie Okonedo na brilhante Charlotte Wells, que chega avassaladora no meio série, quando a produção já está quase para entrar numa espiral. A personagem de Okonedo muda peças de lugar, dá um toque imprescindível no ritmo e dita o ato final.
Apesar do verde que me incomodou e do roteiro ora superficial, ora bem trabalhado, Ratched conta um grande trabalho técnico, com toques de luxo e elegante no cenário e ambiente. Se perde na sua própria história, mas encontra o gancho que a leva para um final interessante e possível de segunda temporada.