Crítica - Publicado em 11.abr. 22
Diretor: Carlos Montero
Gênero: Drama
Duração: 5 temporadas
Ano: 2018
Sinopse:

Novatos como Isadora (Valentina Zenere) e Iván (André Lamoglia) chegam ao colégio de elite Las Encinas, onde a rotina é tudo menos pacata. Nessa prestigiosa instituição, a convivência entre os alunos parece esquentar cada vez mais, trazendo à tona novas intrigas e novos problemas.


Assista o trailer:

O roteiro de Darío Madrona e Carlos Montero deixa bem claro que pode sim aprofundar os seus arcos (…) mas parece que, realmente, sempre vai deixar na superficialidade todas as suas tramas e focar no que acha que o público quer ver: cenas quase que explícitas de sexo e erotismo, muitas festas e traições. E que não servem de nada para somar na estrutura narrativa.

Por: Raquel Oliveira

A série espanhola Élite já mostra a que se trata logo de cara: houve um crime. Mas até que chegue ao ponto de quem cometeu tal crime, o ponta pé inicial se deu com três jovens de classe média baixa que ganham bolsas de estudo em um colégio de prestígio, o Las Encinas. Élite veio para o streaming com a censura +18, ou seja, voltada para o público alvo adulto. Com mais liberdade, logo era de se esperar que em volta do colégio Las Encinas, seus alunos iriam entrar numa espiral de discussões sobre religião e classe social, sexualidade, sexo, orgias, traições e sangue, ocupando espaço em tela. Somando isso tudo, a estrutura narrativa da série, o suspense, embora pudesse ser o principal motivo de ter conquistado os fãs, não é bem o forte. Na verdade, a conquista – provavelmente -, teria sido o fato de termos uma produção que traz personagens gays em um ambiente onde a LGBTQfobia quase passa batida. O que seria um sonho, certo? O problema é que reciclar fórmulas durante cinco anos, cansa.

Durante as primeiras temporadas, Élite sempre foi assim, o crime servindo de cliffhanger no começo e final dos episódios, enquanto o meio serve com arcos que não mantém solidez, deixando de lado o que realmente poderia importar. Claro que isso gera identidade, a série é assim, não é? Com a chegada da quarta temporada, inicialmente pareceu ser positivo a entrada de novos personagens, pois potencialmente poderiam mudar o rumo estabelecido, afinal, mudanças sempre são bem vindas em séries com longas temporadas. Mas no fim, ela não quer se mostrar em qualidade. O roteiro de Darío Madrona e Carlos Montero deixa bem claro que pode sim aprofundar os seus arcos, suas histórias e dar mais camadas ao vasto número de personagens presentes (que diga-se de passagem são atores muito bonitos), que poderiam ter o que contar, mas parece, que realmente, sempre vai deixar na superficialidade todas as suas tramas e focar no que acha que o público quer ver: cenas quase que explícitas de sexo e erotismo, muitas festas e traições. E que não servem de nada para somar na estrutura narrativa.

O roteiro tapando seus furos com essas passagens, acaba deixando a série arrastada e vazia. O fato de apenas colocarem como comentário temas sérios como estupro, assédio sexual e racismo beira a irresponsabilidade, pois, neste ambiente, quando nada é aprofundado, pontuar essas questões, são apenas para que seus personagens se movam até o final da temporada, não oferecendo ao seu espectador o elemento da consciência crítica. Talvez, a única coisa que funcione realmente em Élite, e que é de se admirar, seja a montagem e direção da série, que são criativas e conseguem capturar bem o ritmo e caminho que a série quer levar.

No quarto ano, Mencía, a mais nova filha do diretor chegou como uma rebelde e orgulhosa, com um instinto de liberdade. E logo de cara se mostrou interessada em Rebeka, uma garota linda, descolada e de presença marcante, que ainda estava lidando com situações que aconteceram anteriormente. Rebeka é recíproca, mesmo que sua sexualidade ainda estivesse para ser abordada – mas, novamente, estamos em uma série que nada é abordado com profundidade, né? -, e ambas iniciam uma relação, com muitos altos e baixos. E muitos perigos. Entre elas, desconfianças abalam muito a relação, que foram deixadas para condensar no quinto ano. Mas, isso não aconteceu como esperado. Pois, a relação de Mencía e Rebeka foi ficando cada vez mais difícil. No quinto ano, aparentemente, quanto mais distante uma ficasse da outra, melhor. Farpas trocadas a cada vez que se encontravam deixava a situação cada vez pior, e o que poderia até ser resolvido se houvesse mais tempo de tela de ambas para que o espectador pudesse conseguir digerir melhor, acaba que ficando – mais uma vez – na subjetividade. Até que um ponto importante muda bruscamente o rumo de suas vidas, acabando por se tornar o motivo o qual realmente é melhor cada uma para seu lado. Rebeka, que inicialmente na temporada tinha tudo para explorar mais sua sexualidade, deixa apenas por alto em um comentário isolado que se entende como lésbica. E talvez, infelizmente, elas não volte para o próximo ano.

A quinta temporada de Élite pode até aumentar a temperatura, se apimentando com a introdução de personagens latinos sexys – e tem brasileiro entre eles. Também sem pudores e amarras com relação a restrição de gênero, coloca todos para “se pegarem” independentemente da orientação sexual, fazendo sexo por sexo, seja para extravasar frustrações ou por tédio, ou até por… “experiências na vida”, garantindo para seu público fiel que não pretende mudar sua essência. Mas continua ignorando a outra metade da diversidade, desrespeitando suas personagens femininas, sempre resumindo-as a ficarem à mercê de histórias masculinas, e conduzindo toda sua trama vaga, sem a total consciência (talvez até proposital) do quanto os excessos em prol da audiência elevada, pode ser prejudicial se quer almejar a longevidade.





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