Crítica - Publicado em 01.dez. 21
Diretor: Clea DuVall
Gênero: Comédia romântica
Duração: 1h42
Ano: 2020
Sinopse:

As namoradas Harper e Abby visitam a família de Harper para o jantar anual de Natal. No entanto, logo após chegar, Abby percebe que a moça tem mantido seu relacionamento em segredo de seus pais conservadores.


Assista o trailer:

(…) vale a chance de se colocar no lugar do outro e não usar das nossas próprias histórias como régua, há casos e casos. Não podemos julgar sem saber as camadas de um personagem e aqui, não há tempo para tal aprofundamento.

Quando chegamos em época de fim de ano, somos bombardeados com produções estilo Hallmark (canal de televisão estadunidense focado em séries e filmes apropriados para a família) e, principalmente, estilo natalino. Quantas produções heteronormativas tivemos e temos todo ano, né. Para quem é LGBTQIA+, é um pouco diferente, pois se depara com a escassez desses tipos de produções, falta representatividade. Não há tantos, e os que tem não alcançam o grande público. Mas os tempos mudaram e continuam mudando, hoje o LGBTQIA+ se sente representado quando vê que há muitas produções que contam histórias de personagens LGBTQIA+ que envolvem dança, suspense, comédia, e como sempre, o drama. Mas faltava um em específico, um natalino e que alcançasse o grande público. 

Clea DuVall, que é assumidamente lésbica, teve essa ideia. Mais conhecida por seu trabalho como atriz, Clea, assumiu o posto de diretora e roteirista (junto com Mary Holland) e nos entregou Happiest Season, comédia romântica natalina que tem como protagonistas Kristen Stweart, também assumidamente lésbica, e Mackenzie Davis (San Junipero – Black Mirror) como Abby e Harper, respectivamente. E como é boa a sensação de termos, diretora, roteirista, atriz representando tão bem a comunidade sáfica, né.  

Happiest Season começa com a premissa que Abby é convidada por sua namorada e companheira Harper para ir passar o feriado de natal com ela. Abby perdeu os pais muito jovem, logo, ela sente um certo tipo de aversão a data. Harper insiste um pouco mais e Abby acaba aceitando. Mas há um problema, no meio da viagem, Harper conta para Abby que ainda não é assumida para os seus pais, ela teme que se contar, possa vir a perder o carinho e amor de sua família, dado em vista que eles tentam ao máximo aparentar ser perfeita, a família tradicional. Note que esse é o gancho para o filme acontecer e sem essa premissa, o filme não existe. E mesmo que seja uma fórmula um tanto batida no cinema: encontros e desencontros, Clea DuVall consegue inserir uma dinâmica e atmosfera em todo o enredo que o faça ser interessante, e com o natal ao fundo. Vale lembrar que em uma entrevista, Clea disse que escreveu a história baseado em situações que aconteceram na sua vida pessoal e chegou a comentar que por várias vezes se viu tanto na Harper como Abby.

Dado em vista que Abby aceitou que seria a colega de quarto órfã de Harper, a família compra isso e se convence. Logo, esconder quem é, não poder mostrar que elas têm um relacionamento, faz o filme desenrolar no seu meio uma série de variáveis situações com uma carga de humor que não é abusiva. O humor no decorrer do filme é preciso e no timing certo. Kristen Stewart está provavelmente em uma das suas melhores atuações, ela está leve, faz que Abby seja desenrolada e astuta. E não demora muito para que Abby comece a se sentir um pouco incomodada, até porque, esconder a si mesma é sufocante. Mackenzie Davis está encarregada de causar no espectador um sentimento de identificação, provavelmente muitas pessoas que assistem ao longa possam se ver na sua personagem. As críticas que a personagem recebeu ao longo dos dias que sucederam o lançamento foram um tanto carregadas, e ainda que Harper tenha tido alguns erros, vale a chance de se colocar no lugar do outro e não usar das nossas próprias histórias como régua, há casos e casos. Não podemos julgar sem saber as camadas de um personagem e aqui, não há tempo para tal aprofundamento.

O filme tem pouco mais de 1h30 de duração e como é em foco o natal, para ser leve, divertido, ele entrega tudo isso. Não há tempo para histórias secundárias, e quando DuVall tenta fazer isso, acaba desviando do enredo, mas não é algo que seja tão grave a ponto de prejudicar. Os personagens de apoio são pontuais. Aubrey Plaza como Riley, a ex de Harper, passa despercebida, serve de camada para o arco de Harper e a amizade construída com Abby é genuína. Riley poderia ter tido mais espaço, mas, como já foi dito, não há tempo nesse longa. Destaco Daniel Levy que interpreta John, o melhor amigo de Abby, seu confidente e gay. John é importante para uma passagem esclarecedora do filme e para a mensagem que quer falar.

Um dos grandes trunfos de Happiest Season ter dado tão certo mesmo que numa fórmula batida, imperfeições e clichês, é como Clea conseguiu inserir na ambientação do filme a celebração de um amor LGBTQIA+, e a forma como essa história finalmente é revelada, ainda que também seja clichê, mostra que no fim, o que importa é o respeito e aceitação. A tendência é que mais filmes e produções assim sejam cada vez mais abordadas, afinal, é normal. O filme traz uma bela mensagem e pode servir de porta para a conscientização do primeiro passo.

Por: Raquel Oliveira





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