Crítica - Publicado em 24.maio. 22
Diretor: Mindy Kaling
Gênero: Comédia
Duração: 2 temporadas
Ano: 2021
Sinopse:

A série explora sexualidade uma forma ampla e sem tabus enquanto também apresenta o cotidiano das jovens enquanto lidam com as pressões da faculdade e da vida adulta. Com personalidades distintas, cada uma das protagonistas navega o mundo do sexo e relacionamento a sua maneira, tentando criar conexões com os outros, mas também encontrar suas próprias identidades.


Assista o trailer:

“… há espaço também para a convivência dentro do quarto, o que acaba fazendo com que elas se unam e construam amizade e companheirismo (…) É uma dinâmica construída gradualmente e naturalmente, o que é um dos trunfos da série, pois as quatro protagonistas são bastante divertidas, conduzem bem os seus próprios arcos.”

Por: Raquel Oliveira

Com um título chamativo, The Sex Lives of College Girls, ou A Vida Sexual das Universitárias, chegou na HBO Max como mais um conteúdo original da plataforma. Criação da multitalentosa Mindy Kaling e co-criação de Justin Noble, essa dramédia que bateu recordes de audiência na plataforma ainda que pareça mais um clichê americano, tem o seu diferencial.

Quatro garotas se tornam colegas de quarto ao iniciarem na prestigiada Essex College, uma faculdade fictícia. Embora essas jovens mulheres, Bela (Amrit Kaur), a aspirante a comédia; Kimberly (Pauline Chalamet), a bolsista; Whitney (Alyah Chanelle), a atleta; e Leighton (Reneé Rapp), a patricinha; sejam de personalidades e vidas completamente diferentes, o que as une são é o que elas passam nesse primeiro ano conturbado, cheio de novidades e provações.

Não adianta, em qualquer lugar do mundo, a vida na faculdade é assustadora. Claro, é um grande passo para o começo da nossa formação profissional. Nos Estados Unidos, como já sabemos (talvez graças aos inúmeros filmes e séries desse tema) esses jovens são impulsionados de, além de tentar inúmeras instituições podendo ser aprovados em várias ou não, conquistar também suas independências – embora estejam entrando ainda com as projeções pessoais e profissionais que seus pais depositam. Nessa aqui não seria diferente. Bela vem de uma família indiana e seus pais querem que ela siga carreira na Química, mas ela mente para eles ao trocar o curso pelo grupo de roteiristas da faculdade. Kimberly que vem de uma humilde cidade pequena no Arizona, sempre tenta ser a certinha e seguir tudo na linha, pois não quer decepcionar seus pais. Whitney, filha de uma senadora, é a estrela do time de futebol da faculdade, mas acaba se envolvendo com o técnico do time, o que é um escândalo em várias proporções e Leighton, tem todos os privilégios a seu favor, é rica, ‘loirinha’, gosta de moda… É a filha modelo. Mas esconde um segredo que irá mudar tudo em sua vida: ela é lésbica e não pretende sair do armário tão cedo.

Enquanto todas enfrentam esses dilemas pessoais no decorrer da série, entre fazer o que sonham e ser quem são, ao mesmo tempo que se envolvem em momentos complicados movidas a imaturidade, ou em várias situações constrangedoras, há espaço também para a convivência dentro do quarto, o que acaba fazendo com que elas se unam e construam amizade e companheirismo, a ponto de uma apoiar a outra, ou o grupo todo se apoiar, seja em seus gostos pessoais ou em seus projetos. É uma dinâmica construída gradualmente e naturalmente, o que é um dos trunfos da série, pois as quatro protagonistas são bastante divertidas, conduzem bem os seus próprios arcos e as atrizes também são talentosas.

Ainda que todas consigam ser protagonistas das suas próprias historias, porque a série cede espaço e destaque para todas, há uma que é completamente armada: Leighton. A patricinha que por achar que tem todos os estereótipos possíveis a seu favor, na verdade, é excluída e sonha em ser popular e bem aceita na bolha de um status social. Isso acaba fazendo com que ela seja a mais distante das outras três, se exclui, e vive constantemente irritada e grossa. O que é pelo fato de viver uma vida paralela. Mas, ei, comentei no parágrafo anterior que a dinâmica do grupo é construída gradualmente, certo? Com Leighton, apesar de demorar a se abrir para as outras, aos poucos ela vai construindo sua confiança e se desarmando diante ao grupo, e quando acontece, é como um alívio, pois há algo entre elas que é autêntico e sincero.

Essa história, no fim, não é sobre seguir a jus ao título chamativo. O que diferencia essa série de tantas outras que abordam o ambiente estudantil, é usar o tema sexo como piada pastelão, sem que ele seja o ponto principal da trama, mas sendo parte da vida dessas garotas que estão se tornando mulheres, longe da abordagem masculina sobre o que a mulher deve ou não fazer ou como ela deve se portar. Todas foram escritas com cada característica específica com a sua visão sobre o sexo, talvez como dispositivos para gerar identificação com o espectador, principalmente o público feminino, ainda mais quando se trata da descoberta do sexo, da vida sexual, os gostos sexuais. Mas embora nossas protagonistas sejam quatro mulheres fortes e decididas, é inevitável elas não passarem por constrangimentos e assédios que afetam diretamente suas vidas por viverem numa sociedade que constantemente tentam as diminuir e oprimir, pelo simples fato de serem mulheres. Claro, se é para retratar uma realidade estudantil e de um grupo variado de protagonistas, há também as pautas sociais, econômicas e politicas em torno desse ambiente. Ainda que em alguns momento o roteiro falhe ao abordar alguns desses pontos, tal como o controle de natalidade, por exemplo.

Aqui o protagonismo feminino domina a série de uma ponta a outra. A Vida Sexual das Universitárias não romantiza o “american dream”, ou como suas estrelas sonham em viver um romance. Elas estão despidas de qualquer pudor e abertamente dispostas a experimentar as descobertas que a vida universitária pode dar. O sexo? É bom. Mas uma comédia sobre o empoderamento feminino, condensado com o que nos rondam por sermos mulheres é a grande sacada de Mindy Kaling. É a sororidade pouco vista na TV.





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